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Nº 19 EDT FOR WOMEN, DE CHANEL

Perfumart - resenha do perfume Chanel 19 EDTCriado em 1970, este perfume retratou o lado mais audacioso da personalidade forte e já conhecida de Gabrielle Chanel. O número 19 foi uma homenagem à data de seu nascimento – 19 de agosto de 1883 – e este foi o último perfume lançado (e usado) por ela, já que veio a falecer pouco tempo depois, em janeiro de 1971.

Dizem que Gabrielle enfrentou algumas críticas de pessoas que não acreditavam no sucesso de uma nova fragrância. Mas ela, resoluta, pediu ao perfumista Henri Robert (que já havia criado Pour Monsieur, em 1955) para criar algo tão poderoso quanto o seu Nº 5, contrastando nuances verdes e atalcadas. E ele conseguiu!

Gabrielle gostou tanto do resultado que proibiu a sua produção em massa, pois queria algumas unidades para uso próprio e também para presentear alguns clientes e amigos mais próximos. Por isso, este perfume só foi  lançado no mercado, oficialmente, em 1971, após sua morte.

Uma curiosidade: quando foi criado, levava óleo puro de gálbano iraniano. Porém, com a Revolução Iraniana, em 1979, o mesmo deixou de ser produzido e foi necessária uma reformulação à altura, já naquele tempo. A fragrância traz notas de jacinto, bergamota, néroli e gálbano, na cabeça. No coração, rosa de Maio, narcisos, lírio do vale, jasmim e íris da Florença. Por fim, notas de vetiver, sândalo, musgo de carvalho, couro e almíscar completam a base da pirâmide olfativa.

Na pele, Chanel Nº 19 apresenta aquele perfume que costumam chamar de “cheiro de mulher chique”. É floral e verde, com nuances muito ricas e amargas de gálbano e narciso. O lírio do vale também é bem notável, com suas nuances de jasmim, que foram reforçadas pela presença do próprio jasmim, no corpo da fragrância. Da base, infelizmente, eu só percebi um toque de almíscar com uma leve presença de musgo de carvalho. Adoraria ter sentido o sândalo e o couro, mas não aconteceu. Aliás, por algum motivo, este perfume me causa o que chamamos de cansaço olfativo e, por causa disso, eu nunca consigo sentir mais nada projetando depois de duas horas de aplicação. É como se ele sumisse por completo. Mas ele dura mais de 10 horas na minha pele, só que muito rente e suave. Isso é perigoso, pois em casos como este, as pessoas tendem a reaplicar o perfume e esquecem que os outros ainda o estão sentindo muito bem. Tomem cuidado!

Na minha percepção, imagino que Nº 19 foi um ponto de partida e inspiração para Henri Robert criar, em 1974, o perfume Cristalle. Foi a resposta de Gabrielle para os homens e para o machismo da época.

O frasco atual (já houve vários) é o que mais me chama atenção neste perfume. Se não me engano, apenas ele e o Coco Mademoiselle EDT (de 2002) ganharam esta roupagem. Parece uma tampa, mas na verdade você aciona um spray superior, que borrifa o perfume na pele de forma suave. Não sei por qual razão a empresa não pensa em relançar todos os seus perfumes neste tipo de embalagem. Acabaria, de uma vez por todas, com as reclamações de quem puxa a tampa e o acabamento do lacre sai junto (para quem não sabe, a tampa deve ser levemente torcida, não puxada).

Para encerrar, eu diria que Chanel Nº 19 é o significado engarrafado de uma bela olhada feminina, por cima dos ombros, cheia de desdém e com aquela pergunta implícita: “Está olhando o quê? ”.


 

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𝘽𝙤𝙧𝙧𝙞𝙛𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙘𝙤𝙣𝙝𝙚𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤 𝙝𝙖́ 𝙖𝙣𝙤𝙨. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, blog especializado no assunto.

7 comments on “Nº 19 EDT FOR WOMEN, DE CHANEL

  1. CRISTIANO

    Percebo um parentesco olfativo com o Y, de YSL e com o Ô de Lancôme.

  2. CRISTIANO

    Cassiano, olá! Você saberia dizer se ele tem algum parentesco olfativo com o Vent Vert, de Balmain? Obrigado.

    • Poxa, não sei. Não me lembro de ter conhecido essa fragrância de Balmain. 🙁

  3. Débora

    Não gostei da resenha.
    Chanel 19 é muito mais que apenas isso!

    • Obrigado pelo comentário Débora. O mais legal do mundo dos perfumes é isso: cada um tem a sua percepção.
      O mesmo perfume não precisa se desenvolver na minha pele, como se desenvolve na sua.
      Grande beijo.

  4. Eduardo

    Excelente post.
    Esse perfume é atemporal , e o eau du parfum é , pra mim, a melhor versão, num verde amargo, menos atalcado, mais rente à pele ainda e cheio de austeridade, só que muito intenso e nada apropriado para esse calor do Brasil, o que não me impede de duas boas borrifadas e voilà! . Valeria uma resenha sua , einh?

    • Eduardo, eu fiquei super curioso por conhecer a versão EDP e até comentei isso na fanpage do site.
      Se um dia tiver a oportunidade, com certeza farei uma resenha.

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