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Entrevista com Miguel Matos (PT and EN languages).

Perfumart - Entrevista Miguel Testada

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Entrevista com Miguel Matos: de crítico a criador de fragrâncias.

Miguel Matos nasceu em Portugal, é jornalista e fez parte da equipe que fundou a revista Umbigo, uma publicação de arte, cultura, moda e lifestyle editada em suporte de papel (trimestral) e online (atualização diária). Além disso, esteve envolvido em publicações de renome como Vogue e Time Out.

Miguel também escreveu livros, como “Artistas Portugueses em Discurso Directo”, que abordou a arte contemporânea portuguesa e “O Zodíaco Perfumado”, em conjunto com o astrólogo Miguel de Sousa, em 2018. Mais do que isso, ele também já realizou exposições de arte olfativa, incluindo Making the Body Think no Institute for Art and Olfaction, localizado em Los Angeles.

Mas para nós, brasileiros, bem como para qualquer cidadão nascido em países de Língua Portuguesa, Miguel se destacou como editor do site Fragrantica, onde atua desde 2013. Foi através desse trabalho que seu nome deu voz e abriu espaço para que uma versão brasileira do site fosse criada.

Agora você confere um lado menos “romântico” do Miguel, através de um bate-papo sem eufemismos, com a verdade nua e crua que eu gosto de mostrar no trabalho que realizo neste blog. Estão prontos?

Perfumart - Entrevista com Miguel Matos Livro
Reprodução: acervo pessoal Miguel Matos.

Cassiano Silva: Como surgiu o convite para fazer parte do time de editores do Fragrantica.com?

Miguel Matos: De certa forma, foi até fácil, ou melhor, simples. Eu também era um viciado no site Fragrantica, assim como tu e tantos outros brasileiros. Diariamente, acessava o site, consultava as resenhas, publicava as minhas, etc. Um dia, vi publicado no fórum um anúncio, no qual eles estavam buscando uma pessoa que falasse a Língua Portuguesa para ajudar com a tradução da plataforma para o nosso idioma, bem como a evolução da versão “br”. Então, fui escolhido para ser o editor, mas, na época, deixei bem clara uma condição de que eu não iria apenas ficar trabalhando com traduções, como também gostaria de produzir conteúdos originais, inclusive no site Inglês. De cara, consegui realizar uma entrevista com Chandler Burr, o que foi muito importante para que outras portas se abrissem.

Cassiano Silva: No início, você sentiu ou encontrou alguma dificuldade por não ser nativo de países como França, Itália ou até dos Estados Unidos?

Miguel Matos: Bom, eu falo Inglês e falo Francês e, portanto, consigo me comunicar. Mas com marcas norte-americanas eu tenho pouco contato. Com marcas europeias…bem, também há uma questão um pouco complicada, pois, sendo eu Português e trabalhando com a versão brasileira do Fragrantica, todas as marcas internacionais que possuem representação aqui em Portugal, me enxergam como “imprensa estrangeira”. Em todo lado eu acabo sendo tratado desta forma e ninguém quer falar comigo!

Quando comecei a participar das Feiras Internacionais, estabeleci maior contato. Mas por exemplo, aqui em Portugal com a PUIG (que tem marcas famosas, como Jean Paul Gaultier), eu sou amigo pessoal da Diretora de Relações Públicas e ela não se comunica comigo (sobre lançamentos) e não me envia nada, porque, para todos os efeitos, eu não atuo para Portugal, então não é competência dela. E se eu falar com a PUIG internacional, eles me mandam procurar alguém daqui.

No entanto, a nível das marcas de nicho, é tudo mais fácil. Porque são menores, falamos diretamente com os donos das empresas, etc.

Cassiano Silva: Sendo bastante sincero, você sente (ou já sentiu) algum interesse por parte dos brasileiros que te procuram buscando ajuda relacionada ao Fragrantica? Em caso positivo, o que mais te incomoda (ou incomodou)?

Miguel Matos: Não. O interesse é genuíno, porque é isso que eu faço: inserir todas as fragrâncias possíveis na base de dados do site e é para isso que eu cá estou, independentemente da qualidade. A única regra que nós temos é não dar visibilidade às marcas de contratipos.

Portanto, se alguém me procurar com algum interesse, a verdade é que eu também tenho interesse…risos.

Perfumart - Entrevista com Miguel Matos lab
Reprodução: acervo pessoal Miguel Matos.

Me lembro que você se definia um Curador de Fragrâncias e seus posts sempre deixaram clara a sua paixão por fragrâncias mais antigas, daquelas que podem realmente ser consideradas vintage, respeitando a definição deste termo. Com relação a isso:

Cassiano Silva: O que você mais sente falta nas fragrâncias atuais, quando comparadas às vintage?

Miguel Matos: Esta é uma pergunta…olha, acho que vou ter que escrever um artigo sobre isso. É engraçado, porque depois que eu me afastei dos meus perfumes vintage por um tempo, ou melhor, a partir do momento em que minha coleção deixou de ser usada com frequência, eu costumava dizer que me faltava a dimensão animálica, a potência e o caráter erótico da perfumaria. Mas, há cerca de três ou quatro anos isso tudo mudou, porque a Perfumaria de Nicho foi buscar essas referências outra vez e as coisas aproximaram-se. E hoje em dia já não é tão difícil encontrar perfumes mais potentes e animálicos.

Por outro lado, a perfumaria vintage tinha potência, projeção e tudo aquilo que todos procuram, mas trazia muita elegância. E a minha referência é a perfumaria clássica francesa. E é isso que, neste momento, me faz voltar a olhar para o passado, até porque a minha categoria preferida é a chipre e a antiga é a melhor chipre do mundo.    

Cassiano Silva: E o que você acha que melhorou na produção atual, quando comparada à produção de antigamente?

Miguel Matos: Na mainstream? Não houve melhora!

Mas o surgimento dos sintéticos foi importante para as questões ambientais, embora as altas doses deixem todos os perfumes cheirando a mesma coisa.

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Por favor, me corrija se eu estiver errado. Até onde é do meu conhecimento, você é um autodidata na área. Uma vez, li algo que você havia dito sobre a diferença de ter treinamento formal e de seguir seu instinto, buscando uma orientação de alguém mais experiente. Com relação a isso:

Cassiano Silva:  Você sentiu preconceito ou algum tipo de cobrança ao ver seu nome se destacando como crítico de fragrâncias, sem ter uma formação específica no ramo?

Miguel Matos: Não, eu nunca senti…e tu já sentiste alguma vez??

Cassiano Silva:  Eu respondi e ele continuou…

Miguel Matos: Isso é completamente ridículo e não faz sentido algum! Primeiro, porque quando estamos avaliando uma fragrância, estamos a fazê-lo do ponto de vista do usuário, que é o mais importante que existe, porque todas as pessoas que vão ler nossos comentários não são perfumistas. Elas querem saber as sensações que as fragrâncias nos provocam.

Em segundo lugar, tu sabes muito mais do que qualquer perfumista, porque a maior parte deles ficam trancados em seus laboratórios, obedecendo aos briefings, e não estão nas lojas, nas feiras e eventos para cheirar o que há por aí. Tu, Cassiano, cheiras muito mais perfumes, conheces muito mais o mercado, tens muito mais contato com o consumidor do que qualquer perfumista. Portanto, é ridículo que algum perfumista ou marca ache que tu, ou eu, não temos capacidade para avaliar um perfume.

Continuando, quando eu comecei como editor, talvez por já estar no Fragrantica há alguns anos e o mesmo ter um peso grande na indústria, não tive esse problema, porque já vinha com a reputação do site. Agora, desde que eu virei perfumista, às vezes leio algumas resenhas e penso que aquela pessoa não sabe o que está a escrever, porque nunca cheirou tal matéria-prima e pensa que sabe a que cheira.

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Reprodução: acervo pessoal Miguel Matos. 

Vamos falar da perfumaria de nicho, enquanto segmento que abrange ramificações afins como a perfumaria Indie, a 100% natural, a 100% sintética, etc. Conhecendo tanta gente da indústria de perfumes e as diversas marcas que surgem a cada semana, eu gostaria de saber o seguinte:

Cassiano Silva: Você acha que os blogueiros, youtubers e jornalistas de beleza já conseguiram entender esse segmento e os seus princípios básicos?

Miguel Matos: Eu acho que sim, acho que eles entendem. No Brasil não sei bem, porque só sigo a ti e mais duas pessoas.

O que se passa é que tudo isso já não existe mais, porque muitas marcas de nicho deixaram de ser assim (seguir a raiz, os princípios). Já não consigo mais distinguir muitas marcas do mainstream e a palavra Nicho já não faz mais sentido.

Agora, eu acho que existem os independentes, os artesanais e todo o resto me parece mainstream. Tem marcas de nicho que me pedem para fazer uma fragrância que seja cópia de uma outra da grife Armani, por exemplo!

Temos imensas marcas de cópias e está tudo subvertido hoje em dia. Quanto à pergunta, eu não acho que eles tenham que entender, porque o próprio nicho já não se entende mais. De dois ou três anos para cá, as marcas de nicho só estão preocupadas em vender, não mais em ser transgressoras e rebeldes, porque muitas delas também querem ser compradas por grandes empresas, como LVMH, Estée Lauder, etc.

Cassiano Silva: Você acha que está ocorrendo uma banalização desse movimento, em detrimento de uma falsa glamourização das novas fragrâncias e marcas que estão surgindo no mercado?

Miguel Matos: Sim, marcas como Penhaligon’s, L’Artisan Parfumeur…tudo aquilo que é comprado vai perdendo o seu caráter. 

Perfumart - Entrevista com Miguel Matos
Reprodução: acervo pessoal Miguel Matos.

Em um curto espaço de tempo, mais precisamente desde 2018, você já acrescentou seu “toque pessoal” em mais de 40 fragrâncias de grifes como Nishane, Sarah Baker, Calaj, além da sua própria marca. Ainda, vale lembrar de uma parceria com a SP Parfums, iniciada em 2016.

Há pouco tempo atrás, você divulgou o convite oficial que recebeu para assumir a posição de Diretor-Criativo na marca Bruno Acampora. Com relação à essa mudança profissional, gostaria de saber:

Cassiano Silva: Ao olhar para trás, para o Miguel apaixonado e colecionador, qual a sensação de ver seu nome como parte fundamental no processo de criação de uma fragrância?

Miguel Matos: Eu dizia o mesmo que tu e o meu sonho era ser Diretor-criativo. E na minha vida, sempre quando eu desisto é que a coisa acontece! Portanto, eu percebi que não ia acontecer e decidi fazer os meus próprios perfumes. E agora fui convidado para trabalhar com a Bruno Acampora, que é uma das minhas marcas preferidas desde sempre. Chorei imenso de emoção!

Mas eu desvalorizo tudo aquilo que faço, é um problema pessoal. Então, não acho que o que faço está como deveria estar. Eu vejo o meu nome nos frascos e não sei, ainda não consegui digerir muito bem. Não sou capaz de olhar e pensar: “uau, meu nome”!

Cassiano Silva: Para quem atuou como crítico das criações dos outros, como você lida com as críticas que recebe para suas criações?

Miguel Matos: Tu estás a fazer as perguntas que eu quero responder há muito tempo! Há muita gente que me odeia de morte e, portanto, qualquer coisa que eu faça está errado. Tenho muitos haters!

Mas é muito raro ler uma resenha de um perfume meu e me abalar, pois mesmo que seja negativa, eu percebo que a crítica não é por falta de qualidade ou técnica, até porque meus perfumes são desafiantes, desequilibrados de propósito.

Agora, há muitas pessoas que me odeiam por eu ser gay, por não ter vergonha de ser o que sou e falar o que penso, porque ganhei uma certa fama com o Fragrantica e as pessoas sentem inveja. Tenho pena dessas pessoas!

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Reprodução: acervo pessoal Miguel Matos.

Agora, farei uma abordagem um pouco mais direcionada ao homem, não ao perfumista Miguel Matos. Você expressa muito da sua personalidade através das suas redes sociais. Quem segue seu perfil no Instagram, por exemplo, já viu fotos suas usando apenas trajes de banho ou completamente nu. Há imagens de sua vida pessoal (comidas, gatos, amigos, amor, etc.) e, também, de sua vida profissional (bastidores do Fragrantica, viagens, entrevistas para TV, laboratório de perfumes, com perfumistas de renome, etc.).

Cassiano Silva: Você costuma ser muito julgado, de forma antecipada, por pessoas que não te conhecem?

Miguel Matos: Sempre! As pessoas não tentam conhecer-me. E as pessoas que realmente me conhecem pessoalmente, mesmo que rapidamente, deixam de ter uma atitude negativa.

Cassiano Silva: Mesmo sendo um cidadão europeu, onde a base cultural é bastante diferente, você acha que a sua vida pessoal, bem como a sua sexualidade e seu modo direto de lidar com os outros, já te atrapalhou no ramo da perfumaria?

Miguel Matos: Já senti preconceito sim, por parte da comunidade, mas nunca por parte das marcas. Mas eu nunca sou convidado para nada aqui em Portugal (exceto quando eu estava na revista). Por várias razões: por ser homem, porque eu não vou escrever sobre carros, esportes, etc.  

Cassiano Silva: Em termos de perfumistas, você tem algum ídolo (ou mais de um) que possa revelar para quem está lendo esta entrevista agora?

Miguel Matos: Sim. Sophia Grojsman, Bernard Chant, Germaine Cellier, Edmond Roudnitska, Jean Carles e Christian Carbonnel, que é meu mentor.

Cassiano Silva: Para encerrar, qual você acha que vai ser o próximo passo de impacto na perfumaria mundial?

Miguel Matos: Não sei. A pandemia mudou muita coisa e há muita gente que acha que vamos voltar ao estilo clean. Acho que poderá haver ainda maior preocupação a nível ambiental, no sentido das matérias-primas serem mais sustentáveis e responsáveis.

Nas últimas Feiras (ano passado), tudo estava muito bonitinho e “safe”. E vi muitas fragrâncias trazendo notas verdes, cítricas e florais “normaizinhos”. Mas eu não sei se isso vai mudar agora.

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Cassiano Silva: Mais uma vez, agradeço pelo seu tempo e disponibilidade em responder a estas questões e permitir aos meus seguidores que conheçam um pouco mais a seu respeito. Espero que, muito em breve, sua marca de perfumes esteja presente aqui no blog, com uma página inteira dedicada às suas fragrâncias.

A entrevista em vídeo pode ser conferida, na íntegra, no canal do YouTube. Basta clicar aqui para ser redirecionado (a).

Interview with Miguel Matos: from critic to creator of fragrances.

Miguel Matos was born in Portugal, he is a journalist and was part of the team that founded Umbigo magazine – an art, culture, fashion and lifestyle publication – printed (quarterly) and online (daily updated). In addition, he was involved in renowned publications such as Vogue and Time Out.

Miguel also wrote books, such as “Artistas Portugueses em Discurso Directo”, which addressed contemporary Portuguese art and “O Zodíaco Perfumado”, together with the astrologer Miguel de Sousa, in 2018. More than that, he also held exhibitions of olfactory art, including Making the Body Think at the Institute for Art and Olfaction, located in Los Angeles.

But for us, Brazilians, as well as for any citizen born in Portuguese-speaking countries, Miguel stood out as editor of the website Fragrantica, where he has been working since 2013. It was through this work that his name gave voice and opened space for a Brazilian version of the website.

Now you will see a less “romantic” side of Miguel, through a chat without euphemisms, with the naked truth that I like to portray with the work I do on my blog. Are you ready?

Perfumart - Entrevista com Miguel Matos Livro
Image: Reproduction / Miguel Matos’s personal files.

Cassiano Silva: How did the invitation to join Fragrantica editor’s team come about?

Miguel Matos: In a way, it was easy, or rather, simple. I was also an addict to the Fragrantica website, just like you and so many other Brazilians. I accessed the page on a daily basis, consulted the reviews, published mine, etc. One day, I saw an advertisement posted on the forum, in which they were looking for a person who spoke the Portuguese language (native speaker) to help to translate the platform into our language, as well as the evolution of the “br” version. So, I was chosen to be the editor, but at the time, I made it very clear that I would not only be working with translations but would also like to produce original content, including on the English website. In a short period of time, I managed to conduct an interview with Chandler Burr, which was very important in order to open other doors.

Cassiano Silva: In the beginning, did you encounter or felt any difficulties as you are not a native of countries like France, Italy, or even the United States?

Miguel Matos: Well, I speak both English and French, so I can communicate. But with American brands, I have little contact. With European brands…well, there is also a slightly complicated issue, since, being a Portuguese and working with the Brazilian version of Fragrantica, all international brands that have representation here, in Portugal, see me as a “foreign press”. Everywhere I end up being treated this way and nobody wants to talk to me!

When I started to participate in the International Fairs, I established greater contact. But here in Portugal, for example, with PUIG (which has famous brands, like Jean Paul Gaultier), I am a personal friend of the Director of Public Relations and she does not communicate with me (about new releases) and does not send me anything, because, for all matters, I do not work for Portugal, therefore it is not her competence. And if I speak to PUIG international, they send me to look for someone in here.

However, at the level of niche brands, everything is easier. Because they are smaller, we can speak directly with the owners of the companies or someone related to it.

Cassiano Silva: Being quite sincere, do you feel (or have felt) any interest on the part of Brazilians who reach you for help related to Fragrantica? If so, what bothers you most (or has it bothered)?

Miguel Matos: No. The interest is genuine because that’s what I do: insert all possible fragrances in the website’s database and that’s what I’m here for, regardless of quality. The only rule we have is not to give visibility to the brands of knockoffs.

So, if someone comes to me with any interest, the truth is that I am also interested…LOL.

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Image: Reproduction / Miguel Matos’s personal files.

I remember that you defined yourself as a Fragrance Curator and your posts have always made clear your passion for older fragrances, those that can really be considered vintage, respecting the definition of this term. Regarding this subject:

Cassiano Silva: What do you miss most about current fragrances, when compared to vintage ones?

Miguel Matos: This is a question…look, I think I’m going to have to write an article about it.

It’s funny, because after I got away from my vintage perfumes for a while, or rather, from the moment my collection stopped being worn frequently, I used to say that I lacked the animalic dimension, the power, and the erotic character of the perfumery. But about three or four years ago, all changed, because the Niche Perfumery went to get those references again and things got closer. And nowadays it is not so difficult to find more powerful and animalic perfumes.

On the other hand, vintage perfumery had power, projection, and everything that everyone was looking for. However, it used to bring a lot of elegance. And my reference is classic French perfumery. And this is what, at this moment, makes me look back at the past, not least because my favorite category is the Chypre and, in this case, the vintage Chypre is the best in the world.

Cassiano Silva: And what do you think that has improved in the current production when compared to the production of yesteryear?

Miguel Matos: In the mainstream? There was no improvement!

But the emergence of synthetics was important for environmental issues, although the high doses leave all fragrances smelling the same.

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Please correct me if I’m wrong. As far as I know, you are self-taught in the perfumery field. I once read something you said about the difference between having formal training and following your instinct, seeking guidance from someone more experienced. Regarding this:

Cassiano Silva: Did you feel prejudice or some kind of harsh comments when you saw your name stands out as a fragrance critic, without having a specific background formation in the field?

Miguel Matos: No, I never felt…have you??

Cassiano Silva: I answered and he continued…

Miguel Matos: This is completely ridiculous and makes no sense! First of all, because when we are evaluating a fragrance, we are doing it from the user’s point of view, which is the most important thing that exists, because all the people who are going to read our comments are not perfumers. They want to know the sensations that fragrances cause us.

Second of all, you know much more than any perfumer, because most of them are locked in their laboratories, obeying briefings, and are not in stores, at fairs and launching events to smell what is out there. You, Cassiano, smell a lot more fragrances, know the market much more, you have a lot more contact with the consumer than any perfumer. Therefore, it is ridiculous that any perfumer or brand thinks that you, or me, are unable to evaluate a fragrance.

Continuing, when I started as an editor, maybe because I was already at Fragrantica for a few years and it already has a solid name in the industry, I didn’t have this problem, because of the reputation of the site. But, since I became a perfumer, sometimes I read some reviews and I think that the person does not know what he/she is writing because he/she probably never smelled such raw material and thinks he/she knows what it smells like.

Perfumart - Entrevista com Miguel Matos perfumista
Image: Reproduction / Miguel Matos’s personal files.

Let’s talk about niche perfumery, as a segment that includes similar branches like Indie perfumery, 100% natural, 100% synthetic, etc. Knowing so many people in the perfumery industry and the different brands that arise each week, I would like to know the following:

Cassiano Silva: Do you think that bloggers, YouTubers, and beauty journalists have already managed to understand this segment and its basic principles?

Miguel Matos: I think so, I think they understand. In Brazil, I’m not sure, because I only follow your work and of another two (Helen and Denis).

What happens is that all of this no longer exists, because many niche brands are no longer like that (following the roots, the principles). I can no longer distinguish many brands from the mainstream and the word Niche no longer makes sense.

However, I think aside from the indie and artisans, everything else seems to be mainstream. There are niche brands that ask me to make a fragrance that is a copy of another one from the Armani brand, for instance!

We have huge brands of copies and everything is subverted today. As for the question, I don’t think they have to understand, because the niche segment itself is no longer understood. For two or three years now, niche brands are only concerned with selling, no longer in being transgressive and rebellious, because many of them also want to be bought by large companies, such as LVMH, Estée Lauder, etc.

Cassiano Silva: Do you think that this movement is trivializing in favor of a false glamorization of the new fragrances and brands that are appearing in the market?

Miguel Matos: Yes, brands like Penhaligon’s, L’Artisan Parfumeur…everything that is bought is losing its character.

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Image: Reproduction / Miguel Matos’s personal files.

In a short space of time, more precisely since 2018, you have already added your “personal touch” to more than 40 fragrances to brands such as Nishane, Sarah Baker, Calaj, in addition to your own brand. Still, it is worth remembering a partnership with SP Parfums, which started in 2016.

Not long ago, you shared the official invitation you received to assume the position of Creative Director at Bruno Acampora. Regarding this professional change, I would like to know:

Cassiano Silva: When looking back at Miguel, the passionate customer, and collector, how does it feel to see your name as a fundamental part in the process of creating a fragrance?

Miguel Matos: I used to say the same thing as you and my dream was to be Creative Director. And in my life, everything always happens when I give up! So, I realized it wasn’t going to happen and decided to make my own perfumes. And now I have been invited to work with Bruno Acampora, which is one of my favorite brands of all time. I cried a lot of emotion!

But I tend to devalue everything I do, it is a personal issue. So, I don’t think what I do is as good as it should be. I see my name on the bottles and I don’t know, I still can’t digest it very well. I am not able to look and think: “wow, that is my name”!

Cassiano Silva: For someone who has acted as a critic of others’ creations, how do you deal with the criticisms you receive for your own creations?

Miguel Matos: You are asking me questions that I have wanted to answer for a long time! LOL

There are a lot of people who hate me to death, so anything I do is wrong. I have many haters!

But it is very rare to read a review of a perfume of mine and be affected because even if it is negative, I realize that the criticism is not for lack of quality or technique, not least because my fragrances are challenging, unbalanced on purpose.

Nonetheless, there are many people who hate me for being gay, for not being ashamed of being what I am and talking about what I want, because I have gained certain fame with Fragrantica and people are envy. I feel sorry for these people!

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Image: Reproduction / Miguel Matos’s personal files.

Now, I will take an approach a little more directed to the man, not the perfumer Miguel Matos. You express a lot of your personality through your social media. Anyone who follows your profile on Instagram, for example, has seen pictures of you wearing only speedos or completely naked. There are images of your personal life (food, cats, friends, love, etc.) and also of your professional life (Fragrantica’s backstage, travels, TV interviews, perfume laboratory, with renowned perfumers, etc.).

Cassiano Silva: Do you tend to be highly judged, in advance, by people who don’t know you?

Miguel Matos: Always! People don’t try to get to know me. And people who really know me personally, even if quickly, no longer have a negative attitude.

Cassiano Silva: Even though you are a European citizen, where the cultural base is quite different, do you think that your personal life, as well as your sexuality and your way of dealing with others, has already hindered you in the perfumery business?

Miguel Matos: I have already felt prejudice on the part of the community, but never on the part of the brands. But I am never invited to anything here in Portugal (except when I was working at the magazine). For several reasons: because I’m a man; because I’m not going to write about cars, sports, etc.

Cassiano Silva: In terms of perfumers, do you have any idol (or more than one) that you can reveal to anyone reading this interview now?

Miguel Matos: Yes. Sophia Grojsman, Bernard Chant, Germaine Cellier, Edmond Roudnitska, Jean Carles and Christian Carbonnel, who is my mentor.

Cassiano Silva: To finish, what do you think will be the next big step in the world of perfumery?

Miguel Matos: I do not know. The pandemic has changed a lot of things and there are a lot of people who think we are going back to the clean style. I think there may be an even greater concern at the environmental level, in the sense that raw materials should be more sustainable and responsible.

In the last fairs I attended (last year), everything was very “beautiful and safe”. And I saw many fragrances bringing green, citrus, and floral notes. But I don’t know if that is going to change now.

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Cassiano Silva: Once again, I would like to thank you for your time and availability in answering these questions and allowing my followers to know a little more about you. I hope that, very soon, your perfume brand will be present here on my blog, with an entire page dedicated to your fragrances.

The video interview can be seen, in full, on the YouTube channel. Just click here to be redirected.

 

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BORRIFANDO CONHECIMENTO HÁ ANOS. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, maior blog especializado no assunto.

6 comments on “Entrevista com Miguel Matos (PT and EN languages).

  1. Miguel

    Boa tarde, Cassiano!
    Miguel Matos disse que muitas marcas de nicho já pediram para criar cópias de designers e considerando casas como Parfums de Marley, Dua Fragrance (que é uma marca de contratipos) e outras que nitidamente tem inspirações em perfumes já criados, na sua opinião as casas designers vão acabar?
    Obrigado
    Miguel Neto

    • Acho pouco provável. Muito pelo contrário, acredito que em algum momento, o manifesto que criou a Perfumaria de Nicho corre o risco de morrer e um novo “manifesto” poderá surgir.

  2. ernival de oliveria bizarro

    Não conhecia, fantástica entrevista para quem ama “Cheiros” rsrsrs, e concordo com ele hj, o que vale é vender, está muito pop e, a maioria das fragrancias tem a mesmo DNA para agradar uma massa sem identidade. Perfumes tem que ter personalidade, estilo, antes buscávamos o perfume que fosse nossa extensão e mais as fragâncias conseguiam dizer quem éramos só pelo “cheiro”. 10! Cassiano

  3. Anderson Weber

    Entrevista fantástica!
    Lendo, percebe-se quase um “monólogo” em linha de pensamentos.
    Desde o Orkut, via sua abordagem em falar de perfumes de forma muito franca e sem afetações.
    Miguel também sempre agiu da mesma forma. Muito franco, direto e reto. São dois monstros que sempre admirei!

    Foi uma honra imensa conhecê-lo pessoalmente em São Paulo, e uma honra ser seguido por Miguel e poder trocar duas ou três palavras com ele.
    Apesar da cara de mau, ambos são acessíveis e geniais!

    Um deleite a entrevista! Muito obrigado Cassiano.

    • Eu é que agradeço por esse feedback fantástico, Anderson!
      A nossa visão de espectador muda, quando a gente muda de assento. Uma coisa é o balcão nobre, outra é a área vip, a plateia comum e os camarotes!

      Quando você sai do lugar do usuário e começa a vivenciar o universo de quem usa as redes sociais como espaço de exposição, que é o que você vem fazendo agora com seu perfil, a imagem acerca do Cassiano muda, porque fica mais fácil se colocar um pouquinho na minha posição.

      Cá entre nós, também adorei a entrevista!

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