Vocabulário inclusivo
Nos últimos anos, houve um aumento significativo de conversas mais inclusivas – especialmente, por parte das empresas que vendem produtos e serviços –, que visam se adaptar à demanda da atualidade global no que se refere à comunicação e, sobretudo, à empatia.
Não, não estou me referindo apenas às questões de linguagem neutra. Estou falando daqueles termos que, até pouco tempo atrás, eram usados sem cerimônia, como por exemplo: inveja branca, criado-mudo, cegueta, manco, demente, japa, viado, sapatão, aleijado, etc.
E agora essa tendência também chegou à indústria de fragrâncias. O livro Fragrances of the World (originalmente chamado The Fragrance Manual), que é o maior guia independente de classificação de fragrâncias e foi publicado em 1984 por Michael Anthony Edwards, irá adotar um vocabulário mais inclusivo para a sua Roda das Fragrâncias (Fragrance Wheel), eliminando o termo “oriental” e utilizando o termo “âmbar” a partir de julho deste ano. Assim, famílias antes classificadas como Soft-Oriental, Floral-Oriental e Woody-Oriental passarão a ser conhecidas por Soft-Amber, Floral-Amber e Woody-Amber.
De acordo com Karen Umemoto, Diretora do Centro de Estudos Asiático-Americanos da UCLA, o termo “oriental” é amplamente reconhecido como um termo que referenciava, geograficamente, o Oriente em relação à Europa. Para piorar, a palavra carrega estereótipos que ressurgiram nos Estados Unidos em meio à pandemia da COVID-19, manifestando-se em violentos crimes de ódio contra pessoas de ascendência asiática.
Em um comunicado à imprensa, Michael Edwards disse: “No contexto da perfumaria, o termo oriental nunca teve a intenção de ser ofensivo, mas as percepções mudam. Embora muitos possam se lembrar da sensualidade oriental evocada por fragrâncias como Opium e Shalimar, os jovens de hoje não sentem essa conexão com tal descrição.”
O impacto da inclusão
Teoricamente, o termo “oriental” é utilizado para representar fragrâncias de aspecto ambarado, com notas quentes e sensuais como baunilha, benjoim, etc. Mas, também, acaba sendo útil para fazer referência à origem de algumas matérias-primas.
Particularmente, acredito que essa mudança irá causar maiores problemas apenas aos profissionais da área, pelo menos neste primeiro momento. O consumidor básico, aquele do mercado de massa que não se interessa pela pirâmide olfativa, tampouco pelo conceito criativo, se preocupando somente com o cheiro, a projeção e a fixação da fragrância, não sofrerá qualquer impacto.
Confesso que já passei por algo parecido, há alguns anos, quando resisti em adotar o termo “especiado” no lugar do “especiarado”, perfeitamente flexionado em nosso idioma e amplamente utilizado até os anos 2000. Para mim, nunca houve muito nexo em tentar reduzir o efeito de um acorde criado por especiarias a um termo genérico, uma vez que nossa Língua é tão vasta. Afinal de contas, se o acorde do almíscar é “almiscarado” e o de madeiras é “amadeirado”, então por que o de especiarias deixou de ser “especiarado”?
Foi difícil me render ao tal “picante” utilizado pelas maiores grifes em seus Press Releases (geralmente traduzidos apenas em três idiomas: francês (épicée), inglês (spicy) e espanhol (especiado)). Então, vou tentar me manter imparcial sobre essa questão do “oriental”. Mas gostaria de saber o que vocês pensam a esse respeito, através dos comentários aqui embaixo. ⬇
Fonte: www.gcimagazine.com / Imagens: Reprodução – Pexels (free) e www.fragrancesoftheworld.com / Textos adaptados: Perfumart.
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