Jardin de Grasse foi lançado em 2021 e, até o momento, é a única fragrância comercializada como unissex pela marca. O perfumista responsável foi Olivier Cresp, que já participou da criação de dezenas de fragrâncias de enorme sucesso, como Dune pour Homme, Midnight Poison, Noa, Ange ou Démon, sem contar um dos maiores feitos da perfumaria mundial: Angel, de Mugler.
De acordo com o Diretor Criativo da marca, Pierre Aulas, era imprescindível ter uma colônia francesa na linha de fragrâncias O.U.i, uma vez que é um produto tão emblemático da perfumaria mundial. Então, junto com Olivier, decidiram dar vida à uma fragrância que reúne notas de néroli e bergamota italiana, seguidas por um corpo de pimenta rosa, flor de laranjeira da Tunísia e petitgrain, sobre uma base de sândalo, almíscar e ládano.
Olivier revela que decidiu não utilizar o limão, pois esta nota, às vezes, resulta em um cheiro barato. Por isso, a bergamota de origem italiana e a exigência de matérias-primas naturais, pois “uma colônia de qualidade não se faz com uso de ingredientes sintéticos”, disse ele.
Na pele, Jardin de Grasse é puro deleite. Você já experimentou alguma fragrância que, apesar de não ser gourmand, ativou as suas papilas gustativas? Pois é isso que acontece aqui, através de uma sensação suculenta que invade outros sentidos e dá uma estranha ideia de frescor, como se fosse um chá gelado e cítrico.
Não chega a ser inovadora e, verdade seja dita, essa nunca foi a intenção da empresa, já que o intuito era prestar uma homenagem às colônias tradicionais, focando em um país de clima quente e de fácil aceitação. Nem por isso o resultado chega a ser genérico, pois as colônias mais clássicas costumam trazer doses mais elevadas de petitgrain, cujo aroma é mais azedo. Jardin de Grasse, por sua vez, enaltece o néroli e a flor de laranjeira, que acabam gerando um efeito mais luminoso e frutado.
Outra característica que vale ressaltar é que muitas das colônias mais clássicas evoluem para um efeito soapy, típico de uma época em que tomar banho não fazia parte do ritual de higiene e o cheiro de um sabonete elegante era sempre bem-vindo. Em Jardin de Grasse, o resultado não evolui para o cítrico-aromático, que era feito para agradar aos homens da corte, mas para o cítrico-floral, que tende a ser mais agradável para o público feminino, ampliando o público-alvo.
Para reforçar a durabilidade, o perfumista caprichou no almíscar e o combinou com o ládano, explorando as suas facetas de âmbar, não aquelas que puxam para o cheiro de couro. E embora seja vendida como Colônia Francesa, esta fragrância possui concentração de Eau de Parfum.
A performance é bastante satisfatória em minha pele e a apresentação do produto é muito agradável. A caixa tem aplicações douradas em destaque e o volume (115ml) acaba se mostrando o melhor custo-benefício da marca. Mas peca por não conter cartucho de proteção interna, presente nos demais perfumes à venda.
Além disso, não posso encerrar esta análise sem fazer uma observação mais crítica. Por mais que tudo se encaixe com o storytelling, nos fazendo reviver o ritual de frescor das colônias clássicas, o mundo evoluiu e a indústria de fragrâncias evoluiu com ele. É contraditório enxergar que a mesma indústria que não aconselha esfregar os pulsos, após borrifar sobre a pele, considere aceitável trazer para o mercado um produto com tampa de rosca, sem oferecer uma segunda opção, como é o caso de Cologne (Mugler), das linhas CK One e CK Be (Calvin Klein) ou dos perfumes de Serge Lutens, todos estes mais antigos.
Tirando isso, Jardin de Grasse merece vários elogios e promete ser o perfume assinatura de muitos brasileiros.
JARDIN DE GRASSE TEM ASSINATURA DE PERFUMISTAS FRANCESES BATIZADOS NAS EAU DE PARFUM 💫