A Lancôme é aquele tipo de empresa que costuma lançar grandes fragrâncias, que se tornam sucesso de vendas, a cada período de cinco anos, aproximadamente. E todas marcam gerações! Temos, por exemplo, Trésor (1990), reinterpretação do clássico de 1952, Poême (1995), Miracle (2000), Hypnose (2005), entre outros.
Em 2012, foi a vez de La Vie Est Belle que, em Língua Portuguesa, significa “A Vida é Bela”. O conceito criativo explora uma fragrância capaz de fazer qualquer mulher feliz e tudo foi pensado para transmitir esse efeito, inclusive, o frasco. Seu projeto foi iniciado em 1949 por Armand Petitjean, fundador da Lancôme, e representa um sorriso de cristal. Foi necessário mais de um ano para que o efeito fosse alcançado, criando a impressão de um sorriso.
A fragrância foi a primeira íris gourmand já feita pela grife e contou com o trabalho de três grandes nomes da indústria: Anne Flipo, Olivier Polge e Dominique Ropion. De acordo com a área de comunicação da Lancôme, a paleta conta com 63 ingredientes (metade deles de origem natural) e foram necessários mais de 5.000 ensaios – na verdade, 5.521 – até a aprovação final.
La Vie Est Belle Eau de Parfum (na caixa, L’Eau de Parfum) tem uma composição vibrante, que foi criada para reinterpretar a luminosidade da magnólia. E há um detalhe pouco divulgado no mercado: a nota da Íris Florentina está presente em todas as etapas da evolução, por isso é considerada uma nota transversal, embora o seu extrato tenha sido listado no corpo da fragrância. Outra informação importante (e confusa), fica por conta da nota de cassis (Black Currant), que aparece na maior parte dos textos brasileiros e Norte-americanos, mas muda em algumas páginas oficiais da grife, como Reino Unido e Austrália, que listam amoras (Blackberries). Como crítico, não poderia deixar esse aspecto de fora da análise, reforçando a imensa quantidade de falhas de comunicação que encontro na indústria.
Dito isso, vou me manter fiel ao que consta em ambas as páginas, que listam pera e amoras (na saída), seguidas por um concreto de íris e absolutos de jasmim Sambac e de flor de laranjeira (no coração), sobre uma base de essência de patchouli. E percorrendo toda a fragrância, uma outra nota transversal, chamada acorde de iguarias, que seria a combinação de baunilha e pralinê e confere o efeito gourmand.
La Vie Est Belle combinou uma campanha bem produzida (trazendo uma atriz de sorriso largo e empatia do público) com uma fragrância de alta aceitação, que se tornou parâmetro na indústria (chamamos de benchmark, no briefing). Antes dela, apenas uma outra atraiu tanta atenção do público feminino e da concorrência: Flowerbomb (2005 / Viktor & Rolf) que, por sinal, teve o toque de dois perfumistas iguais envolvidos em seu processo. Coincidência?
Na pele, La Vie Est Belle é exuberante, em todos os possíveis significados: abundante, rico, farto, etc. Tem de tudo um pouco e, ao mesmo tempo, nada em exagero. Desde o momento em que toca a pele, é adocicado, sensual, quente, levemente seco e pulverulento, é floral, é gourmand…é incrível! Por estas e outras razões, mulheres que sempre se queixaram de fragrâncias doces, se renderam aos seus encantos, bem como aquelas que não gostam das que são muito florais ou atalcadas. É um floral-gourmand, que tem vitalidade e exala feminilidade, sem puxar para uma faixa etária exclusiva.
Na minha percepção, parece uma sobremesa na qual fatias de pera e pétalas do jasmim foram cristalizadas e regadas com uma calda de caramelo. Em seguida, um pó de íris foi suavemente salpicado sobre o prato e, ao lado, uma espécie de chá das folhas e raízes do patchouli foi servido, para acompanhar e dar o contraste necessário.
Ainda há muita comparação com a fragrância de Flowerbomb. Mas eu, particularmente, sinto que este último tem mais teor floral. A maior ligação vem da nota de patchouli, mas ainda acho um mais aberto e oriental, enquanto o outro é mais denso e gourmand.
Não é à toa que La Vie Est Belle se tornou uma das fragrâncias mais copiadas em todos os cantos do mundo, envolvendo as empresas que fazem contratipos, perfumes inspirados e, é claro, as mais famosas, que nunca irão admitir a verdadeira intenção. Em menos de uma década, já gerou mais de 15 variações (flankers), incluindo as edições limitadas.
Você pode até não gostar de La Vie Est Belle, mas precisa admitir o seu papel de sucesso na perfumaria mundial. Afinal de contas, precisamos respeitar um vencedor quando nos deparamos com um à nossa frente!
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