Dando seguimento à Premium Collection, que foi criada em 2014 com o lançamento de Rudis, Malia é uma fragrância feita para as mulheres, em 2015, mas que vai muito além disso. Enquanto o primeiro perfume foi dedicado ao poder, este foi dedicado à transgressão.
O conceito remete ao final do século XVI, em uma pequena cidade no Sul de Piemonte, onde o poder da Igreja havia atingido seu ápice e qualquer violação do comportamento ou das regras estabelecidas era vista com pouca tolerância. Uma garota de extraordinária beleza fora escolhida por causa de seu temperamento rebelde, sua falta de consideração pela opinião pública, sua curiosidade sobre o mundo e sua autoconfiança, que atrai e assusta. A estaca purificadora esperava por ela e o paradoxo é que a única pessoa capaz de mostrar qualquer piedade foi seu carrasco, ao lhe dar uma substância que a deixou inconsciente no momento crucial.
A fragrância de Malia, que no idioma italiano significa magia ou encanto, foi criada por Antonio Alessandria, o mesmo perfumista italiano por trás do sucesso de Rudis (que ganhou o FIFI Awards Russo). Seguindo o conceito, ele imaginou a fragrância de uma bruxa moderna e inocente, uma mulher que seduz com um sorriso brilhante, que finge ser uma criança, mas que tira força da terra para atordoar sua presa. Para tal, escolheu uma flor incomum, com uma natureza dupla: refrescante, porém doce; delicada, mas inebriante: a flor de osmanthus. Seu absoluto é muito utilizado na Alta Perfumaria, pois confere nuances de damasco muito vívidas. Quando utilizada na perfumaria mais comercial, costuma ser explorada para conferir nuances frutadas (damascos e ameixas) e, por vezes, suas facetas coriáceas são exploradas.
Malia possui notas de mandarina, notas frutadas aveludadas, pimenta rosa e manjerona, na saída. Esse acorde foi criado para resultar em um efeito narcótico. Então, o corpo carrega notas de osmanthus, rosa, flor de tabaco e pimenta preta. Por fim, a base traz vetiver, patchouli, benjoim, musgo de carvalho e notas almiscaradas.
Na pele, a fragrância de Malia é um verdadeiro feitiço. Tinha tudo para ser extremamente feminina, mas o lado floral e frutado se funde à picância das pimentas e ao amargor da manjerona, resultando em algo confuso e viciante. A rosa foi trabalhada em segundo plano, como elo de ligação entre o topo e a base da composição. A flor de tabaco, o benjoim e o patchouli parecem formar uma pasta mais doce, quase resinosa, como as que são utilizadas para incensos no Oriente Médio. Então, o musgo de carvalho traz a indescritível sensação de algo mais úmido sobre um almíscar muito proeminente, daqueles que gritam por limpeza e fazem a gente pensar em shampoo.
Ainda não aprendi a decifrar Malia! É como uma torta, cuja massa foi feita com as notas de base, mais densas e escuras e o recheio foi feito com damascos frescos, mergulhados em almíscar e temperados com pimentas para cozimento em fogo brando, ao invés dos cravos que costumamos colocar em compotas ou geleias. É doce e amarga, ao mesmo tempo. Dá contraste ao paladar, mas seu aroma é divino!
Na minha pele, Malia projeta a metros de distância, deixando um rastro impiedoso e a sua fixação é incrível. Outro ponto positivo, em se tratando de uma empresa do segmento de nicho, é a singularidade. Não me recordo de ter sentido fragrância similar até o presente momento. Fui enfeitiçado!