Nicho x Indie: explicando diferenças básicas.
Atualmente, vem se tornando crescente o surgimento de novas marcas e linhas de perfumes que se autodenominam como “perfumaria de nicho” no Brasil. Embora o público brasileiro ainda esteja engatinhando no conhecimento dos termos e tipos de perfumaria existentes no mercado, esse movimento reduz e simplifica (não de forma positiva) a seriedade deste assunto, que é tão complexo e movimenta bilhões de dólares por ano, no mundo inteiro.
Na teoria (vale a pena destacar), existem algumas diferenças que precisam ser explicadas para que o público, de forma geral, consiga entender o produto que está comprando e a sua procedência, bem como seu conceito.
Conforme consta na nossa página sobre Alta Perfumaria, as premissas básicas seriam:
- Perfumaria de Nicho: nasceu do desejo de alguns profissionais em fazerem produtos autorais e artesanais, cuja matéria-prima e o criador estão no centro do processo criativo (e das atenções, diga-se de passagem). Além do desligamento dos criadores com as marcas mais famosas, os perfumes de nicho têm, em sua lista de diferenciais, embalagens únicas que são, geralmente, mais simples (o que importa é a fragrância) e maior preocupação nos ingredientes, sempre de alta qualidade.Na perfumaria de nicho são focados detalhes que não são prioridade para as marcas mais populares. Normalmente, possuem seus próprios perfumistas (inclusive, alguns são os donos do próprio negócio). Eles dão identidade à casa e são destaque frente à produção, pois esta exige conhecimento profundo, larga experiência e, de certa maneira, já se apresenta ao mercado com certa tradição.
Algumas empresas do mercado de nicho também se posicionam com um diferencial: suas fragrâncias são criadas por diversos perfumistas de renome, convidados para participarem, por exemplo, do lançamento de uma nova coleção (Olfactive Studio, Frederic Malle, etc.). Já outras empresas são especializadas em determinados pontos: materiais sintéticos (Commes des Garçons), aromas de uma cidade (Bond n.9), uma história a ser contada (Fueguia 1833), etc. De uma forma mais simplista, eu diria que é a perfumaria feita para um “pedaço da sociedade” que não se preocupa mais com a marca e sim, está atrás da nova criação de um determinado perfumista. Este grupo é mais exigente e está disposto a pagar mais caro pelo produto. Ao mesmo tempo, o criador sabe que o seu produto não será vendido em massa, mas para um “seleto grupo”, desde que disposto a pagar por aquela obra de arte em forma líquida. Ou seja, por todos os lados, existe o foco em algo exclusivo para um grupo segregado. Daí, o termo “nicho”. - Perfumaria Indie: dentro da cena “underground” do mundo dos perfumes, a perfumaria Indie é a mais artesanal, que conta com muitos perfumistas amadores, investindo na criação de uma linha própria e tentando estabelecer o seu lugar ao sol. A distribuição costuma ser bastante limitada e a influência artística da perfumaria de nicho é nítida. Mas há uma diferença básica (e enorme) entre elas: uma possui recursos mais limitados e quer se tornar conhecida; a outra possui recursos financeiros e industriais quase ilimitados e seus profissionais já possuem nome estabelecido no mercado.
Cosméticos artesanais no Brasil: o que é permitido?
A sensação de fazer seu próprio produto cosmético e colocar sentimentos é única, mas até que ponto é benéfico aos consumidores?
A agência norte-americana FDA (U.S. Food and Drug Administration), apesar de não obrigar os estabelecimentos a tirarem o alvará e registrarem os produtos, recentemente publicou certa preocupação quanto às boas práticas de fabricação dos chamados cosméticos artesanais, no que diz respeito às condições dos edifícios e instalações, equipamentos, pessoal de produção, matérias-primas, embalagens primárias, linha de produção, controle de laboratório, registros, rotulagem, reclamações e programa voluntário.
As preocupações envolvem o ambiente aonde será fabricado o produto final e os controles envolvidos vão desde o teto até o controle microbiológico das mãos do pessoal envolvido. As instruções técnicas devem estar por escrito, a saber: formulações, processos, transferências, envases e controles do produto acabado. Os controles de rotulagem da embalagem primária e exteriores (secundárias) também estão na vista da agência, pois envolvem o nome do produto, as declarações de conteúdo e o aviso que declara: “A segurança deste produto não foi determinada”.
Diante de todos os controles listados, as reclamações dos consumidores também fazem parte do processo e devem ser arquivadas como documentos que citem o tipo e a gravidade de cada lesão relatada pelo consumidor e o centro médico utilizado.
Por último, mas não menos importante, as empresas ou pessoas físicas que fabriquem os cosméticos podem participar de um programa voluntário da agência, chamado VCRP (Voluntary Cosmetic Registration Program, do inglês Programa Voluntário de Registro de Cosméticos), que é um sistema de comunicação usado pelos fabricantes, embaladores e distribuidores de produtos cosméticos nos Estados Unidos.
Ao nos depararmos com todo o controle citado acima e trazendo para a nossa realidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) possui várias normas quanto as empresas fabricantes de cosméticos e seus produtos acabados e não reconhece um produto como cosmético artesanal, conforme a lei 6.360/76.
A fabricação é permitida, mas para a comercialização é obrigatória a regularização da empresa e do produto. Para o controle das boas práticas de fabricação, podemos citar a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 48/2013, na qual as matérias-primas utilizadas em cada composição precisam de controle microbiológico, físico-químico, etc.
Nessa mesma linha de controle, os produtos finais ou de prateleira, salões e clínicas, precisam dos mesmos controles e ainda testes de segurança e eficácia para comprovação de apelos mercadológicos e saúde dos consumidores. São apenas alguns detalhes relativos aos produtos, pois antes da produção e comercialização, é indipensável conseguir as autorizações de funcionamento para as empresas, as quais envolvem Órgãos fiscais Federais, Estaduais e Municipais para que a empresa possa colocar seus produtos nos PDVs.
Ainda, o controle das matérias-primas e produtos finais devem ser os princípios básicos de todas as empresas e do responsável técnico para proteção aos consumidores e, consequentemente, à marca.
Portanto, fica a dica: não acredite em tudo que você vê nas redes sociais, tome cuidado com o que você aplica sobre a sua pele e, sobretudo, saiba como gastar o seu dinheiro com produtos de procedência.
*Fontes: Alta Perfumaria – Perfumart / Produção artesanal – site Cosmética em foco / Imagens: reprodução Pixabay (free)