Antaeus vem do Grego Antaios que, em Português, é o mesmo que Anteu. Segundo a Mitologia Grega, Anteu, filho de Poseidon e Gaia, foi um lutador gigante e poderoso, que ficou conhecido por forçar todos os viajantes que passavam por suas terras, na Líbia, a lutarem com ele em um combate. Sua força era invencível, desde que estivesse sempre em contato com o poder de sua mãe, a terra. Foi derrotado por Hércules (ou Heracles), ao ser levantado e ter suas costelas esmagadas, ainda no ar.
Dessa história nasceu o conceito para a criação desta fragrância, que retrata um homem viril e ao mesmo tempo vulnerável; masculino, porém, sensível. A pronúncia é super discutida por aqui. Em Francês, se fala algo próximo de “Ôntaiú”. Em Inglês, fica mais para “Énthious”, embora já tenha visto resenhas (em vídeo) de norte-americanos, que pronunciam algo como “Anthêios” (forma como eu falo). Mas, definitivamente, o tal “Ântô” não existe!
Na composição, notas de sálvia esclareia, murta (também conhecida por mirto ou erva-da-inveja), coentro e lavanda encabeçam a fragrância. Em seguida, rosa, tomilho, manjericão e um toque de jasmim, fazem parte do corpo. Encerrando, notas de musgo de carvalho, castóreo (castoreum), ládano e patchouli da Indonésia. Após as reformulações, a lista de ingredientes ainda conta com cera de abelha, acorde cítrico (lima, limão e bergamota), tabaco e mirra.
Muito se fala sobre as reformulações e parece que a última ocorreu em 2013. Na minha opinião, discuti-las é perda de tempo, já que a ordem natural é que elas continuem acontecendo, conforme as restrições aumentam. É importante dizer que quem conheceu a versão original, de 1981, defende que as reformulações não estragaram a qualidade e o poder deste perfume. Para a maioria, as diferenças costumam envolver apenas questões de cremosidade, saída mais potente, base mais acourada ou mais carregada em patchouli, etc. Será verdade?
Antaeus é mais um daqueles perfumes que foram criados para enaltecer a masculinidade em sua forma mais clássica, representada por pelos, bigodes e virilidade rústica. E como se esperava dos perfumes da época, todos traziam aspectos muito musgosos e secos. Porém, Antaeus já brincava com nuances florais sob outras mais animálicas e esta é, na minha opinião, a principal diferença entre as versões que eu testei, de forma simultânea.
O meu frasco foi fabricado no início de 2010, mas não deixarei de traçar um pequeno comparativo entre ambas, já que possuo uma fração da versão mais antiga, datada dos anos 90. E antes que me perguntem qual é a melhor, posso afirmar que ambas se parecem ao longo da evolução (principalmente, após duas horas de uso) e, ao mesmo tempo, possuem diferenças bastante significativas: enquanto a atual possui aspecto mais cítrico e bem perceptível, sobre algumas nuances incensadas e base musgosa, a antiga apresentava maior nuance de rosas, além do forte lado resinoso do ládano e uma faceta animálica muito evidente, resultado do uso do castóreo. Mas é impossível comparar a projeção entre elas, pois a mais antiga chega a assustar, desde o momento em que toca a pele, me fazendo lembrar de como as fragrâncias de 20 anos para trás eram únicas.
Dizem que após a última reformulação ocorrida, em 2013, muito da versão vintage foi resgatado. Com relação à versão de 2010, trata-se de um perfume muito bom, de ótima durabilidade, mas que peca na projeção. A impressão que dá é que a Chanel tentou domesticar um animal selvagem e, por isso, o perfume acabou ficando mais elegante do que animálico, ideal para uso em ambientes (e vestimentas) mais formais. Por causa disso, todas as vezes que uso este perfume fico com a sensação de que está faltando algo.
Pelo visto, a Chanel fez o filho dos Deuses renascer como um simples mortal.


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