Em 2014, a perfumista Nadia Zuodar criou a fragrância de Camino de Azahar nas versões masculina e feminina. Elas fazem parte da coleção Ecosystems – Mediterranean e enaltecem a flor de laranjeira, também conhecida como flor de Azahar (palavra de origem árabe para flores brancas).
Um ano mais tarde, ela decidiu criar duas variações (flankers), desta vez tendo o incandescente sol e a Savana africana como cenário. Nasciam, então, as fragrâncias de Camino de Azahar Oro (para homens e para mulheres), que fazem parte da Ecosystems – Savannah.
Agora, o conceito celebra a ligação da humanidade com o sol, respeitado como um Deus – em algumas culturas – e simbolizado pelo ouro. A fragrância de Camino de Azahar Oro Man possui notas de néroli, lírio, giesta (também chamado de Genet ou Spanish Broom), champaca, verbena do Cabo, Palo Santo, cogumelos selvagens, resinas da Namíbia (Omumgorwa e Omumbiri), mel, baunilha, especiarias e óleos indígenas (Ximenia, Andiroba, Yangu e Sapote).
Mas antes de falar sobre o perfume e o que sinto na minha pele, vale a pena algumas explicações: a giesta tem um cheiro que lembra o da flor de laranjeira, de início, com a doçura do mel (no fundo); a champaca é um tipo de magnólia, porém mais rara e com perfume mais forte. Por esta razão, seu absoluto vem sendo muito apreciado na fabricação de fragrâncias mais nobres; o Sapote (também conhecido como Mamey) é um fruto original da América Central e Cuba, muito utilizado para fabricação de marmeladas e seu óleo é obtido da semente prensada. As demais notas já foram explicadas nas resenhas de Camino de Azahar Man e Woman.
Na pele, Camino de Azahar Oro Man é uma perfeição (pelo menos, para mim). Ao contrário das primeiras versões, esta possui uma faceta mais diurna, ainda que carregada de resinas e óleos densos, bem dentro do estilo da perfumaria árabe. Aliás, por mais estranho que nos pareça pensar, de forma positiva, na combinação de deserto, calor e perfumes muito fortes, foi essa característica de fragrâncias cheias de óleos mais puros, muito âmbar, rosas e incensos, que fez com que o mercado do Oriente Médio ditasse novas regras na indústria, até então dominada pelos estilos criados na França e nos Estados Unidos.
Camino de Azahar Oro Man tem uma saída forte e de aspecto mentolado, que sobe pelas narinas de maneira inebriante. Há uma sensualidade oriental e ambarada do começo ao fim, que se desdobra entre nuances de mel e de incensos refrescantes. A fragrância é quente, como sentir um chá em infusão, mas não é incômoda durante a evolução.
A qualidade das matérias-primas salta aos olhos (ou ao nariz), mas o destaque mesmo fica por conta das resinas nobres da Namíbia, que vou explicar para vocês: a Omumgorwa é uma resina que só se forma depois que uma espécie de árvore morre naturalmente (por isso, a importância da colheita sustentável). Ela tem cheiro de tâmaras maduras e tende a ganhar nuances de caramelo, com o passar dos anos. A Omumbiri é única do local e serve de perfume para o povo Himba. Seu cheiro parece o da mirra, mas possui um frescor terroso e cítrico e não há nada similar no mercado.
Como se não bastassem os elogios já feitos, embora as fragrâncias da casa sejam produzidas com óleos e extratos 100% naturais (e isso nem sempre implica em alta projeção ou duração), esta fragrância exala bastante, dura mais de 15 horas e não sai da pele nem mesmo após um banho. Desculpem o trocadilho, mas vale ouro!
*imagem: reprodução / nadiaz.ch
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