Chergui vem do Árabe Sharqi, que é o nome dado, em Marrocos, ao vento que sopra do deserto do Saara. Em Árabe, significa “Vindo do Leste” e, no caso do perfume, não tem qualquer ligação com a ilha de mesmo nome, localizada na Tunísia.
Serge Lutens é apaixonado por Marrocos e escolheu o local como sua moradia. Muitas de suas inspirações são provenientes de lá. No caso de Chergui (em Francês se pronuncia Chérguí), Lutens o define como: “um incêndio que se espalha pelo vento; um deserto em chamas”.
A composição traz açúcar de feno, íris, rosa, mel, incenso, folhas de tabaco, âmbar, almíscar e sândalo. Para quem não sabe, existem alguns tipos de feno com alto teor de açúcar, como o feno da cana-de-açúcar e o feno da Grécia (feno-grego). No caso deste último, suas sementes possuem um aroma muito similar ao do xarope de bordo (aquele usado em panquecas).
Novamente, o perfumista Christopher Sheldrake conseguiu interpretar as ideias de Serge de forma primorosa. Chergui, o vento, passa por cima das montanhas do Atlas, descendo pelas planícies costeiras, completamente seco, indo em direção ao Oceano Atlântico. E o resultado de Chergui, o perfume, é exatamente esse: um sopro seco e quente sobre a pele, que só se acalma depois que a poeira baixa.
Ao borrifar na pele, pensei: “quero um frasco agora”! O primeiro impacto traz uma rosa melada e uma íris que não é polvorosa, como de costume, mas floral e com nuances de violetas. De repente, sem perceber, surge um cheiro de mel e um tabaco cremoso, aquecido pelo âmbar. Neste estágio, me lembrou bastante de The Dreamer (Versace) e da razão pela qual este perfume é tão apreciado, mesmo sendo de uma marca mais comercial. Trata-se de um belo tabaco! E essa foi a etapa mais duradoura da evolução na minha pele. A partir daí, cerca de três horas depois de aplicado, Chergui se transforma mais uma vez e, assim como o vento, perde força e se mostra mais suave, porém seco. O incenso e o sândalo se misturam e criam uma nuance que lembra um couro macio.
Entretanto, li muitos comentários que mostram que além de evoluir bastante, Chergui também pode ser mutante. As comparações vão desde Obsession (Calvin Klein) e Tobacco Vanille (Tom Ford) a Bvlgari Black (Bvlgari) e Eau des Baux (L’Occitane). Em alguns usuários, se mostrou muito feminino. Na minha pele, achei mais masculino.
De toda forma, este belo perfume – lançado em 2001 (não em 2005, de acordo com a Wikipedia) – consegue ser elegante, forte, sedutor e diferente. É o tipo de perfume que as pessoas te param na rua para perguntar o nome.
Só para relembrar: eu já disse que quero um frasco?
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Ótimo, é um perfume impar não tem comparação a fragrância expira paz e domínio proprio .
Bela resenha. Embora o Tobacco Vanille seja o rei do tabaco adocicado, o Chergui é exemplar — refinado, sedutor e divergente.