A minha história com este perfume é antiga. Há alguns anos atrás, eu tive 1 frasco deste perfume em minhas mãos, mas não gostei do aroma quando testei e acabei vendendo-o. Agora, outro frasco volta às minhas mãos e eu começo a acreditar que existe algo a mais por trás desta experiência. Seria carma?
O fato é que algumas fragrâncias se vendem por si só, graças a boas notas de saída, que ajudam na hora do famoso teste na fita olfativa. Outras são bem mais complicadas e exigem um tempo maior de apreciação e evolução na pele. Na verdade, todo perfume precisa de tempo para mostrar o seu real valor, já que o que importa é o aroma depois de uns 30 minutos na pele, ou seja, a presença das notas de coração e, sobretudo, de base da fragrância.
E Déclaration é um destes mais complicados! Sua saída é muito forte, esfumaçada e incômoda, pelo menos, para o meu nariz. E eu sei que não sou o único, porque já li inúmeras resenhas (inclusive, internacionais) com a mesma observação. Trata-se de um verdadeiro exercício para os narizes mais exigentes e, sobretudo, para os iniciantes na arte de se perfumar.
Na sua composição, notas de saída de madeira de vidoeiro, bergamota, laranja amarga e coentro, complementadas por notas intensas de especiarias como cardamomo, artemísia e pimenta, além de zimbro e um toque de jasmim, no coração da fragrância. Por fim, cedro, vetiver, couro, âmbar, musgo de carvalho e nuances de madeira esfumaçada (de acordo com o meu frasco de provador).
O resultado é mais ou menos o seguinte: os 10 minutos iniciais apresentam sensações das mais diversas. Alguns lembram cheiro de filtro de cigarro, outros de comida indiana com muito cominho e curry, outros chegam a comparar o aroma com o de um armário de madeira fechado por muito tempo. E a verdade é que estes minutos iniciais podem ser até sufocantes, se o perfume for aplicado além do normal. Mas se esta resenha lhe serve de conselho, espere um pouco mais e deixe o resto vir à tona. Depois que esta fase “turbulenta” passa, a fragrância se revela mais calma e elegante, com muita presença das especiarias, principalmente, do cardamomo. A base é amadeirada na medida certa e o aroma perdura por horas, projetando classe e sofisticação.
Possui muita semelhança com um outro lançamento, também de 1998, chamado S.T. Dupont pour Homme. Este, porém, é mais floral e possui uma base mais cremosa, enquanto Déclaration é mais polêmico, intenso e amadeirado.
Para concluir, vale lembrar que estamos falando de um produto Cartier e que foi criado por um mestre da perfumaria mundial, que é Jean-Claude Ellena. Com este nome por trás da criação, pouca coisa precisa ser acrescentada.
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fala, cassiano. acompanho sua página há algum tempo. parabenizo você pelo vasto acervo de resenhas sobre perfumes. impressionante.
sobre o declaration, assim como você e o mundo inteiro, o meu primeiro contato com a fragrância foi igualmente traumático. no meu caso, me evocou CC. isso mesmo, macho-enjaulado. só depois de muitas semanas é que eu descobri toda a beleza do perfume, e o usei , sem dó, até as gotas finais. não comprei mais por causa do preço. eu gostava tanto dele, que o borrifava na cortina antes de dormir. e foi nesse ritual antes do sono, que pude apreciar a magia da abertura, literalmente borbulhante de declaration. experimente isso , borrife em algum lugar da sua casa, fique a uma distância de uns três metros, e veja o bosque primaveril explodir gentilmente no seu nariz. abraço
Obrigado Marcelo!