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MEU VERDE, DE TANIA BULHÕES

Perfumart - resenha do perfume Tânia Bulhões - Meu Verde

Lançado em 2020 com o nome de Tangerina Verde, este perfume ganhou novo nome juntamente com o reposicionamento da marca acerca do seu pilar de perfumaria fina, processo que ocorreu em 2023. A empresa diz que não houve reformulação.

A fragrância de meu Verde é classificada como cítrica-floral e carrega notas de tangerina verde e néroli, no topo da pirâmide olfativa, que abrem caminho para um coração floral e fresco de pimenta rosa e flor de laranjeira, repousando sobre uma base de cedro, patchouli e almíscar.

Meu Verde é o DNA de Grasse sobre a pele! Quando a gente fala das colônias francesas mais tradicionais (bem como das clássicas alemãs ou italianas), é sobre esse tipo de fragrância a que nos referimos. Um misto de suculência cítrica, nuances aromáticas, frescor e limpeza.

Sendo assim, eu poderia encerrar esta resenha por aqui, uma vez que a história da perfumaria está completamente interligada com esse tipo de fragrâncias e, provavelmente, você que está lendo-a nesse momento já sabe do que estou falando (escrevendo, no caso). Mas não consigo!

Meu Verde traz de volta a perfumaria clássica e prova que, nessa indústria, um clássico nunca sai de moda. Para os mais jovens, tem cheiro de gente velha. E eu até entendo, pois o mercado ágil das últimas décadas, cuja decisão de compra é baseada nas tendências criadas por inovações mirabolantes e cheiros disruptivos, afasta esse tipo de composição. Porém, para os mais sábios (algo que a idade nos traz), Meu Verde tem cheiro de status, de uma elegância atemporal que é difícil de explicar, mas que sabemos que só era possível para quem pertencia a uma classe muito alta da sociedade. É o tipo de fragrância capaz de nos transportar para décadas (e até séculos) atrás, mesmo sem termos vivido as experiências daquele tempo.

E como fazer uma fragrância clássica – com jeitão de sabonete luxuoso –, que sempre traz nuances de bergamota, alecrim, lavanda e muito petitgrain, parecer jovial e atrativa nos dias de hoje?

Isso é mais simples do que parece! Basta fazer pequenos ajustes no verde ácido de outrora, melhorar a leveza e a suculência do néroli, diminuir quaisquer resíduos musgosos em excesso e acreditar que todos nós temos, no fundo de nossas almas, um ser apaixonado pelo cheiro da riqueza passada, quando os cítricos ajudavam a encobrir o odor das pessoas que não se banhavam diariamente, como nós, brasileiros.

No final das contas, Meu Verde aposta na história da perfumaria e em algo que transcende o nosso conhecimento por fragrâncias. É vestir sobre a pele uma criação que “entrega” a nossa idade, revela o nosso cansaço social, é fácil de escolher em qualquer ocasião e, sobretudo, escancara nosso atual momento e estado de espírito.

Meu Verde é o tipo de perfume que pode mudar de nome quantas vezes for preciso, pois sempre terá espaço em qualquer coleção de fragrâncias, de qualquer apaixonado por perfumes no mundo.


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BORRIFANDO CONHECIMENTO HÁ ANOS. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, maior blog especializado no assunto.

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