heiroLançado em 2016, o perfume Papiro foi criado para prestar homenagem ao cheiro dos cedros, que é assinatura do perfumista da Amberfig. Tornou-se a sua nota preferida, porque o faz lembrar do cheiro de livros antigos. Aliás, a inspiração veio do envelhecer de um livro, como ele mesmo conta nesta entrevista exclusiva, realizada em 2015.
Mas você sabe o que é o papiro? O papiro ficou conhecido como o precursor do papel na antiguidade, muito utilizado pelos hebreus e babilônios. Ele era obtido através do uso da parte interna, branca e esponjosa do caule do Papiro (Cyperus Papyrus), que é uma planta aquática, da mesma família da Tiririca e de cheiro amadeirado e seco. Uma vez cortado em finas tiras, estas eram posteriormente molhadas, sobrepostas e cruzadas, para depois serem prensadas. A folha obtida era martelada, alisada e colada ao lado de outras folhas, a fim de formar uma longa fita, que era depois enrolada. A escrita dava-se, paralelamente, às fibras.
Essa nota faz parte de diversas fragrâncias conhecidas na perfumaria, desde marcas Designers às da Alta Perfumaria. E nesta criação da Amberfig, ela não existe, pois a fragrância não é literal, sim figurada. Aqui, as ideias vão muito além do sentido usual.
A fragrância de Papiro conta com notas de goiaba, lima da Pérsia e laranja doce, no topo. Em seguida, o corpo carrega notas de cedro vermelho, além de cedros da Virgínia, do Texas e do Himalaia. Na base, a fragrância traz notas de patchouli, musgo de carvalho e couro.
O resultado é lindo e tem um ar retrô. Embora não tenha uma construção fougère e faça parte dos frutais-amadeirados, Papiro engana facilmente. Quem sente sua fragrância e desconhece a composição, é capaz de imaginar uma bela nota de bergamota e afirmar que o musgo está ali desde o princípio. Mas ele só foi inserido na base da pirâmide olfativa. O cedro vermelho (também conhecido como cedro cheiroso ou cedro-maçã) possui nuances quentes, amadeiradas e frutadas, muito diferente dos demais cedros.
E assim como o desenrolar do papiro usado antigamente, a fragrância de Papiro (o perfume) se revela aos poucos e de forma mutável: às vezes, parece um fougère verde e musgoso dos anos 70, que foi modernizado de alguma forma; outras vezes, se mostra doce e oriental, com uma laranja suculenta sobre um delicioso gerânio. Na minha pele, contudo, não senti o couro tanto quanto gostaria.
Em termos de projeção e fixação, é irrepreensível. E por incrível que pareça, depois de horas sobre a pele, faz lembrar o cheiro de alguns livros de capa dura envelhecidos. Basta fechar os olhos e deixar a imaginação rolar solta.
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vim aqui ver sua interpretação para o Papiro, pois nessa semana estou revisitando a casa Amberfig, após quase 2 anos. testei ontem o Papiro Absoluto, que, segundo o David, é muito próximo do papiro. Eu gostei bastante, embora seja apenas uma unica usagem, mas minhas impressões ficam próximas às descritas em sua resenha. embora conste que o Absoluto tenha mais couro, eu quase não senti a nota até agora, quem sabe nas próximas usagens eu consiga.
Adorei ter adquirido esse perfume! Belo rastro e fixação. Pena que não sinto tanto a goiaba e o couro… excelente perfume nacional que remete aos clássicos.