Em 2014, a Nobile 1942 decidiu lançar uma nova coleção de fragrâncias mais opulentas, representando o movimento do mercado, inclusive no segmento de nicho, e reforçando que estavam prontos para acompanhar as mudanças na indústria. Os clássicos de outrora estavam perdendo espaço para os perfumes mais modernos e cheios de notas de incenso, couro e Oud. O consumidor, por sua vez, também havia ficado mais exigente. Nascia, então, a Premium Collection.
Rudis chegou representando a força, o poder. Rudis é o nome da espada de madeira que era usada pelos gladiadores, durante os treinos, na Roma antiga. Mas também era o símbolo da liberdade, pois era o presente que um gladiador recebia ao ser libertado como escravo, após ter demonstrado grande valor durante as batalhas. Era o objeto que representava o começo e o fim da sua carreira.
Seguindo o seu estilo e tradição, a empresa convidou um perfumista italiano para dar vida à fragrância: Antonio Alessandria. Ele entendeu o conceito e pensou em uma fragrância que representasse a imagem de um homem viril, sempre envolvido com bebidas (por causa do efeito entorpecente), porém pronto para a luta. Ele veste peças de couro, que resistem aos golpes, e vive para provar o seu valor.
Para tal, o perfumista trabalhou com bergamota, acorde de frutos secos, notas frutadas e bagaço, na saída; rosa, gerânio, cravo (especiaria), açafrão e cedro, no corpo; couro, patchouli, vetiver, immortelle, notas almiscaradas e incenso, na base.
Ao sentir a fragrância de Rudis hoje (em meados de 2018), não dá para dizer que é extremamente inovadora. Mesmo assim, é atual e tem tudo para se manter dessa maneira por alguns anos, enquanto o estilo vigente for este.
Quando aplicado, o perfume de Rudis faz lembrar vinho fermentado, com aquele cheiro sentido por quem já pisou uvas e teve as canelas imersas em sumo e cascas. Ao mesmo tempo, as nuances de cravo e açafrão conferem um teor mais encorpado que passa a lembrar o cheiro de conhaque. Não há muita evolução, mas é possível sentir a rosa metalizada, que traz o efeito de sangue (retratado na caixa feita de couro verdadeiro – e certificado – e no frasco, ambos tingidos de vermelho), bem como o açafrão que, na minha opinião, é o grande destaque dessa composição.
Rudis não é um perfume de grande projeção, mas exala masculinidade de uma forma rústica, nada elegante. Principalmente, quando as nuances de couro e incenso começam a exalar, informando que o filme que conta a história do gladiador está chegando ao fim. A fusão de acordes sujos e envelhecidos é tão singular que nos leva a entender o motivo que fez com que esta fragrância ganhasse uma das categorias do Fifi Awards, em 2015.
A duração é muito boa, ainda que fique rente a pele depois de cerca de cinco horas. No meu último teste noturno, antes de publicar esta resenha, ainda fui capaz de sentir a fragrância sobre os pelos dos braços após doze horas, na manhã seguinte.
Rudis: mais do que uma ferramenta que não feria, era um símbolo que representava o alívio, a liberdade.