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SELFIE EDP, DE OLFACTIVE STUDIO

Perfumart - resenha do perfume Olfactive Studio SelfieEsta linha de perfumes de nicho foi completamente inspirada na arte da fotografia.

Desta vez, a empresa decidiu não colocar um fotógrafo no processo criativo. A inspiração de Selfie é o próprio usuário. A caixa traz um espelho a fim de refletir a sua imagem, como se a fragrância tivesse sido criada especialmente para você.

O perfumista foi Thomas Fontaine, que já trabalhou para fabricantes da indústria, como a Mane, e já criou para marcas como Jean Patou, Lubin, Eutopie, etc.

Esta fragrância foi lançada em 2015 e é composta por notas de anis estrelado (badiana), elemi, gengibre, incenso e angélica, no topo; acorde de xarope de bordo, canela, lírio e madeira de Cabreúva, no corpo; acorde de camurça, estoraque, ládano, musgo de carvalho, patchouli, fava tonka e sândalo, no fundo.

Na minha interpretação, o perfume Selfie foi criado para aproveitar um momento em que tanto se falava dos Millennials e, ao mesmo tempo, celebridades e subcelebridades dominavam as redes sociais com fotos mais pessoais, abrindo um novo padrão para o mercado consumista e criando novos rumos para a tecnologia móvel. Entretanto, a fragrância de cor azul engana. Enquanto a indústria de perfumes explorava o mesmo conceito através de acordes docinhos e pouco inovadores, Thomas Fontaine deu vida à uma fragrância para os que seguem o ritmo frenético das redes sociais, mas possuem identidade própria.

Na pele, Selfie é resinoso, quase grudento. Há um misto de medicinal e incensado; o cítrico e o doce suave; como se a goma extraída das árvores fosse tão hipnotizante a ponto de querermos levar à boca, mesmo que o sabor seja amargo. Ao mesmo tempo, temos um lado floral, que exala de forma contínua. E no fundo desse rico elixir, uma base mais cremosa; não doce, mas adocicada.

Selfie não é um perfume de muita evolução, mas surpreende pela diferença. Com o passar do tempo, me faz imaginar um dia frio, uma jaqueta cinzenta de camurça e um cheiro muito confortável de perfume – ainda do dia anterior – no colarinho e nos punhos, deixando uma vontade de repetir e nunca mais usar outro, pelo menos não com essa jaqueta.

E não estou falando do cheiro de couro, caso essa sensação tenha lhe passado pela mente. É camurça mesmo, com toque gentil e confortável, porém coberta por uma resina que escorreu líquida e solidificou com o tempo, deixando um cheiro incrível (e algumas manchas de recordação).

Selfie é um belo perfume e não me faz lembrar, automaticamente, de nenhum outro que já senti. Caminha por várias famílias olfativas: desde o amadeirado, passando pelo floral e terminando no oriental-especiarado (ou especiado, como se fala hoje em dia). Exala bem no início, mas perde força muito rápido. Não possui alta duração, mas ainda dá para sentir na pele depois de seis horas. Na minha opinião, é o tipo de fragrância que merecia maior projeção, ainda que a fixação continuasse a mesma.

Para encerrar, eu digo o seguinte: Selfie não é um perfume genérico e não traz uma base carregada de baunilha ou qualquer outro acorde gourmand. E verdade seja dita, Selfie não é a cara dos Millennials, mas de quem já passou dos 30 anos, já experimentou muitos perfumes e quer se destacar do padrão. É o perfume para quem decide o que vestir antes de postar a foto, não para quem obedece aos influenciadores.


 

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BORRIFANDO CONHECIMENTO HÁ ANOS. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, maior blog especializado no assunto.

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