shadow

VIOLETTE, DE HOUSE OF HAUTT

Perfumart - resenha do perfume Hautt - Violette

Lançado em fevereiro de 2018, o perfume Violette teve, como inspiração, a famosa violeta. Mas se engana quem pensa que esta fragrância tenta recriar o cheiro da flor ou das folhas. Aqui, a violeta foi trabalhada como um conceito, uma cor e suas nuances, entre elas, a mais adocicada.

Violette possui notas de coco, ameixa, pêssego e tangerina, na saída; notas de violetas, rosa da Bulgária, Jasmim Sambac e caramelo, no corpo; notas de âmbar, baunilha Bourbon e sândalo do Mysore, na base.

E assim como fiz na análise do perfume Malabar, gostaria de esclarecer alguns pontos antes de falar da fragrância e de seu comportamento na minha pele: o Gabriel não foi o perfumista responsável, como muitos estão afirmando. Quem deu vida a este perfume foi Luciana Bergamasco, perfumista da Vollmens, que é uma casa de fragrâncias brasileira. Mas é maravilhoso ver tal envolvimento porque, muitas vezes, enaltecemos os “mestres” que criam as fórmulas, mas nos esquecemos de elogiar quem cria o conceito e desenha o briefing por trás de centenas de fragrâncias de sucesso mundial. E esse tipo de profissional, infelizmente, não costuma ter seu nome divulgado.

Agora, com esses lançamentos, fica clara a importância de quem desenvolve o projeto e precisa ter contato com diversas fragrâncias, algo que foi mais fácil para o Gabriel, já que ele é dono de lojas de perfumes que trabalham com as grifes mais famosas, voltadas para o grande público, além de outras do mercado de nicho. Resumindo: nesta orquestra perfumada, Gabriel representa o maestro.

Para Violette, Gabriel pensou em uma bomba floriental, na qual o caramelo explodisse com toda a sua glória gourmand. Para tal, a perfumista precisou trabalhar o composto Ethyl Maltol, responsável pelo famoso cheiro doce de inúmeras fragrâncias, que pode parecer algodão doce ou açúcar queimado. E para chegar ao resultado esperado pelo criador, foram necessários (pasmem) mais de 250 ensaios, conforme informação que ele fez questão de me passar (valeu pela confiança, Gabriel!).

O resultado é um perfume sensual e doce, que vai te fazer pensar ser mais do mesmo, porque a saída é adocicada e lembra aquelas fragrâncias com baunilha sintética, sabe? Mas espere um pouco e deixe a mágica acontecer. As notas de ameixa e coco demoram um tempo para mostrar o seu real valor. Parece que o caramelo chega na frente de tudo, desesperado por uma medalha que não existe, porque não há linha de chegada. Então, o pêssego traz uma nuance láctea e a evolução começa a se desdobrar, de forma lenta.

Depois de um longo tempo sobre a pele, o segundo estágio de evolução traz um buquê floral, no qual o jasmim brilha de forma primorosa, derrubando até mesmo o reinado da rosa. Mas não é um jasmim verde ou áspero. É doce e carnal, quase aveludado. E por cima desse veludo cai um caramelo quente, quase derretido. É aqui que a boca enche de água e a gente entende a ideia central por trás da criação. E a viagem segue rumo à uma base ainda mais cremosa, com toda a potência da baunilha e do âmbar, carimbando o estilo oriental.

Na minha opinião, Violette não tem o mesmo requinte de Malabar, que faz lembrar fragrâncias árabes do mercado de nicho. Aqui, há um apelo muito mais comercial, porém com menos cara de produto plastificado. Em contrapartida, Violette dá uma surra no outro, tanto em projeção quanto em durabilidade. Aliás, menos é mais, viu? Este perfume exala, exala, exala, exala, exala, exala…e exala. Como eu disse lá atrás: “não há linha de chegada”.

Violette foi feito para ser comercializado sem distinção de gênero, mas irá agradar mais ao público feminino, sem sombra de dúvidas! Quem é fã do perfume Bonbon (Viktor&Rolf) irá se identificar bastante.

Para encerrar, mais uma informação cheia de exclusividade: a fragrância possui 23% de essência, o que bastaria para ser classificada como Parfum, de acordo com a classificação padrão da perfumaria mundial, até pouco tempo atrás. Mas como esse mercado está mudando e as empresas estão se moldando às questões de mercado (e de impostos), o próprio diretor-criativo achou melhor optar pela classificação EDP, mantendo uma abordagem mais conhecida do consumidor brasileiro.


 

The following two tabs change content below.
BORRIFANDO CONHECIMENTO HÁ ANOS. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, maior blog especializado no assunto.

4 comments on “VIOLETTE, DE HOUSE OF HAUTT

  1. Tiago

    Cassiano, recebi uma amostra com alguns decants que comprei e é um perfumão. A mim, lembra perfumes do tipo La Nuit Tresor, da Lancome.

  2. IGOR FERNANDES

    Ótima resenha! Ao ler cada linha vem a vontade de correr até a loja mais próxima e adquirir está maravilha de perfume .

  3. Jonas Belo

    Que maravilha de texto, que bela resenha caro Cassiano. Dá ainda mais vontade e pressa em ter nas mãos esta nova criação. Muito grato pelo seu belo trabalho. Vida longa à House of Hautt!👏👏

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *