O perfume Bois D’Orange foi lançado no final de maio de 2021, época do ano que faz parte do outono no Brasil. Desta vez, o perfumista escolheu a cor laranja, que está diretamente ligada ao conceito, à fragrância e ao seu nome, que em nosso idioma significa Madeira de Laranja.
O conceito visa retratar as cores da estação, quando as folhas caem, cobrindo o chão com um tapete em tons de ocre, e o pôr do sol colore o céu com cores mais quentes. Para criar esta fragrância, foram utilizadas notas de tangerina, laranja, lima, laranja amarga e bergamota, na saída. No corpo, notas de ruibarbo, petitgrain, estragão, elemi e pimenta rosa foram combinadas. Por fim, a base da pirâmide olfativa revela notas de vetiver, madeira de guáiaco, cedro e almíscar branco.
Bois D’Orange me faz pensar naqueles filmes que trazem casas com muitos criados e terrenos verdejantes que se perdem no olhar. Um pouco mais afastada, em uma colina, há uma árvore frondosa, para onde o filho mais novo sempre corre quando quer rever um pequeno esquilo, que virou seu amigo, ou para encontrar formas imaginárias nas nuvens. E como é comum nessas histórias, a criança sempre é querida pela governanta ou pela cozinheira, que costuma deixar um pequeno farnel pronto para seus momentos de fuga.
E assim, ele (que vou chamar de Fábio) se senta ao pé de uma árvore coberta por pequenas flores azuladas – Guaiacum Officinale –, desamarra o nó feito com cuidado e se delicia de pequenas fatias de queijo, presunto cru, algumas bolachas e laranjas previamente cortadas em cruz, prontas para serem destacadas. Na primeira tentativa de abocanhar a polpa da fruta, os óleos essenciais espirram com o retorcer das cascas, entrando pelas narinas e antecipando o suculento aroma. Sem se preocupar, deixa o sumo escorrer pelos cantos da boca e pelos dedos das mãos, que ao alcançar pedaços do presunto defumado, revelam um cheiro único.
O outono traz brisas mais frescas e constantes no alto da colina e o pequeno Fábio percebe que a relva e o balançar dos arbustos ao redor liberam um cheiro verde, mais aromático. Em um pequeno pote, uma geleia de ruibarbo chama sua atenção e ele, prontamente, mergulha seu dedo a fim de sentir o gosto. Ao levar o dedo à boca, percebe que sua mão não foi lavada e continua exalando um cheiro cítrico e levemente picante, agora com menos teor defumado. O sol vai se pondo, nuvens mais escuras trazem gotas de uma chuva passageira e a árvore da colina revela um cheiro especial. É hora de voltar correndo para casa e tomar notas em seu diário.
Os anos passaram, mas a memória daquela tarde permanece viva na mente de Fábio, agora um homem adulto. As sensações daquele dia atravessaram o tempo e deram vida à fragrância de Bois D’Orange, cheia de tons naturais, fácil aceitação e pensada para durar muito, a ponto de ser lembrada no futuro.
Mais uma página do diário foi virada e agora a gente compartilha da inocência daquele menino, que chupava as pontas dos dedos, interpretava os aromas e um dia virou perfumista. Enquanto isso, continuo sentindo o cheiro daquela laranja, cujo sumo escorria pelos dedos, já na espera pela próxima história.
Latest posts by Cassiano Silva (see all)
- Parceria entre Coach e Interparfums segue até 2031. - 22/03/2025
- L’Oréal adquire participação na Amouage – O que vem por aí? - 02/03/2025
- PORTINARI ABSOLUTO, DE O BOTICÁRIO - 17/01/2025
- STYLETTO ELEGANCE, DE O BOTICÁRIO - 17/01/2025
Esta semana recebi os decants da Condé Parfum e, por ter fragrâncias cítricas como um dos principais aromas no meu favoritismo pessoal, BOIS D’orange era a que tinha mais curiosidade em conhecer. E eu simplesmente ADOREI.
Lembro-me que há umas semanas, o Cassiano postou no insta uma pergunta sobre qual era o nosso (seguidores) perfume da sexta feira; eu respondi dizendo que era o John Varvatos Artisan Pure e, após o autor mencionar que desconhecia o perfume,, eu respondi dizendo que estava consideravelmente preocupado pois alguns diziam que havia sido descontinuado e eu não conhecia, até então, algo que se aproximasse daquele aroma cítrico/verde. Até conhecer BOIS D’orange. Se encaixou perfeitamente no meu gosto e
na “pegada” olfativa do Artisan Pure (pelo menos na minha percepção e na minha pele). Com suas respectivas diferenças, sendo o fundo amadeirado e a performance uns dos pontos que diferenciam do Artisan e que me encantaram na fragrância do Fabio Condé.
Excelente qualidade e naturalidade no aroma!
Valeu muito a pena conhecer!
Obrigado por compartilhar!