O perfume Undergrowth foi lançado no ano de 2018, mas o perfumista Nadeem Crowe decidiu reformular suas fragrâncias por causa das mudanças impostas pela IFRA. Então, esta resenha irá tratar da versão atual, relançada no início de 2020.
Undergrowth possui 22% de óleos essenciais em sua composição, que carrega notas de hortelã de jardim, grama e tintura de solo terrestre, na saída. No corpo da fragrância foram combinadas notas de mandarina, raiz de íris e notas verdes. Na base da pirâmide olfativa, temos vetiver, patchouli e almíscar branco. Uma observação: as fragrâncias desta empresa não levam corantes artificiais, portanto, é possível notar sedimentos com o passar do tempo, devido aos níveis altos de materiais naturais.
Undergrowth pode significar, em Língua Portuguesa, termos como matagal, subdesenvolvimento ou vegetação rasteira, conforme o sentido aplicado. Aqui, a inspiração do perfumista veio da tentativa de recriar o cheiro sentido quando a hortelã fresca de jardim é arrancada da terra úmida.
Na pele, a fragrância de Undergrowth corre riscos, uma vez que poderá agradar somente àqueles que estão familiarizados com condimentos, culinária ou práticas de jardinagem. Isso porque, logo de cara, a impressão que temos é exatamente aquela proposta pelo criador: você acaba de arrancar mudas de hortelã da terra e o cheiro de substrato úmido, ainda preso às pequenas raízes, é muito presente.
Esse cheiro permanece por muito tempo e vale dizer que, pelo menos na minha pele, a fragrância não apresentou grande evolução. Undergrowth não é aquele tipo de perfume no qual você consegue sentir muitas das nuances presentes nos ingredientes da composição. Aqui, de certa forma, tudo gira em torno das notas de hortelã, tintura de solo e vetiver. O resto serve apenas como uma tela em branco, na qual pintamos um fundo borrado, que ajuda a realçar o que está em primeiro plano.
Para mim, Undergrowth foi uma grande surpresa com relação ao uso da tintura de solo, que é um ingrediente difícil de ser trabalhado e que, pessoalmente, já havia me traumatizado antes. Isso ocorreu quando conheci as tão faladas fragrâncias da grife Demeter Fragrance Library e experimentei Dirt. Aquele cheiro de sujeira e poeira me deixou com asco.
Esse tipo de ingrediente funciona muito bem na formação de acordes, por exemplo: com óleo de rosas, você consegue uma faceta que remete a um roseiral; com resinas quentes, você alcança um aspecto vegetal; com compostos sintéticos, você obtém um acorde mineral que lembra rochas vulcânicas. E aqui, como citado antes, o cheiro de quem prepara mudas menores ou colhe para uso direto na cozinha.
Undergrowth demora horas para mostrar seu lado mais amadeirado, quando as nuances verdes e terrosas já acalmaram. É justamente nesse momento, que um dulçor suave emerge e a fragrância fica mais sedosa, graças ao toque do almíscar.
Se você gosta do processo artesanal de arrancar sua própria hortelã, lavando as delicadas folhas e deixando-as em infusão para o preparo de um chá, então você irá amar este perfume. E se você é do tipo que aprecia notas terrosas de vetiver, patchouli e íris, então a experiência será ainda mais prazerosa.
Curiosamente, durante os testes realizados, a fragrância de Undergrowth durou mais na fita olfativa do que na minha pele. Ao contrário de Forest, esta aqui projeta mais, porém parece durar menos na pele. Mesmo assim, algo me diz que a performance será diferente em temperaturas mais elevadas.
Felizmente, eu não tinha nada parecido na minha coleção e Undergrowth chegou para agregar e ocupar seu espaço.
Latest posts by Cassiano Silva (see all)
- Em evento inédito, O Boticário reafirma a força da perfumaria nacional. - 05/11/2024
- Cartões olfativos podem influenciar na escolha de perfumes. - 23/10/2024
- Luxo Olfativo: a perfumaria fina de Tania Bulhões. - 02/08/2024
- ENCONTRO MARCADO, DE TANIA BULHÕES - 01/08/2024