A Lalique resolveu fazer algo inédito ao lançar esta versão esportiva de sua obra-prima de 2006: Encre Noire. E, obviamente, críticas vieram de todos os lados. Comentários do tipo: “isso é sério Lalique, Encre Noire Sport?” e “já podemos esperar a versão Intense!”, entre outras, estão nos diversos fóruns de fragrâncias ao redor do mundo.
O que eu realmente não entendo é porque as pessoas ainda continuam se importando com flankers, como se isso fizesse diferença na fragrância das versões originais. Eu me preocupo muito mais com as descontinuações (que retiram perfumes maravilhosos do mercado) do que com as versões criadas sobre algum outro sucesso de vendas. E também me incomodo quando estas versões não inovam e não trazem nada do DNA da versão original.
Cabe lembrar que a empresa recebe pedidos de uma versão mais leve há muitos anos, pois muitos consumidores enxergam a qualidade da versão original, mas não conseguem usá-la. Uns acham muito forte, outros muito seca, outros com cheiro que remete à “madeira mofada”, etc. Então, a empresa resolveu atender aos pedidos. E fez bem feito!
A composição original continua aqui, mas foi mixada com outras notas mais frescas: o cipreste agora vem ao lado de notas de toranja, bergamota e lavanda, na saída; no coração, as notas esfumaçadas do vetiver do Haiti se fundem, novamente, às nuances acouradas do vetiver de Bourbon. A novidade está no acorde aquático e na noz-moscada, que dá um um toque diferenciado à fragrância. Por fim, a mesma base de outrora, com notas de almíscar e madeira de caxemira.
Temos, então, o mesmo aroma da versão original, pincelado por um sumo de frutas cítricas. A saída de antes, que era esfumaçada, pungente, com nuances verdes de pinho, agora é fresca, frutada e levemente cítrica. O cipreste não está mais tão invasivo. O vetiver, que sempre foi a grande estrela da versão original, também perdeu potência, pois levou um banho do tal acorde aquático. A sensação que eu tenho é que o aroma denso e rascante de antes, agora parece mais com algo que foi molhado, como aquele cheiro de madeiras depois da chuva. Cerca de 1 hora após a aplicação, a fragrância original reaparece com maior clareza, quando a base surge e você percebe, claramente, que tratava-se de Encre Noire, o tempo todo.
Verdade seja dita, esta versão Sport projeta muito menos do que a original (que é um assombro), mas dura tanto quanto aquela. O frasco manteve a identidade visual, agora em tons de cinza. Na minha opinião, teria sido muito mais inteligente se fosse chamado de Encre Noire Fraiche, já que de esportiva, só mesmo a cor azulada do líquido.
E que venham as versões Intense, OUD, Extreme, etc. Eu estarei esperando com ansiedade.
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