shadow

FAVA SELVAGEM, DE TANIA BULHÕES

Perfumart - resenha do perfume Tânia Bulhões - Fava Selvagem

Fava Selvagem foi lançado em 2022 e não teve seu nome alterado por causa do processo de reposicionamento da perfumaria fina de Tania Bulhões, ocorrida em 2023. Seu nome presta homenagem à baunilha de Madagascar, ingrediente cultivado por mulheres de comunidades locais, que contribuem para a preservação da espécie através de um processo de polinização manual.

Aqui, já deixo a minha primeira observação: já vi vídeos, em redes sociais, de influenciadores afirmando que esta fragrância foca na fava tonka. Cuidado, pessoal! O ingrediente central – e fonte de inspiração desta criação – refere-se à fava (ou vagem) da orquídea baunilha, que pertence ao grupo das especiarias. A propósito, o perfil aromático depende das condições de cultivo, de preparação e das variedades ou espécies utilizadas.

A fragrância de Fava Selvagem é classificada como oriental-âmbar (embora, atualmente, já não se use mais o termo oriental no mercado de fragrâncias. Neste caso, seria apenas âmbar). Ela traz notas de lírio d’água e madeiras, na saída; Frésia e orquídea, no corpo; Baunilha de Madagascar e âmbar, na base. Eu ainda sinto nuances de bergamota e alguma outra frutinha na abertura (pêssego ou damasco), manteiga de íris e jasmim, na parte central, e sândalo ao fundo. Se ainda tiver notas de vetiver e patchouli, também no fundo, não me surpreenderia.

Na pele, Fava Selvagem se comporta de maneira estranhamente calma. Digo isso, porque notas de baunilha e âmbar, assim como as composições dessa categoria, costumam exalar bastante, ao ponto de serem consideradas sensuais. E para tornar tudo ainda mais estranho, o nome engana no quesito expectativa, pois é comum conciliarmos o termo selvagem com algo animálico, beirando o agressivo. E não é o caso!

A fragrância tem breves momentos de frescor, no início, mas o volume cai vertiginosamente e parece que tudo fica abafado na pele, deixando um cheiro quente e cremoso, que dura mais de oito horas, mas não exala muito (a não ser que você exagere no spray). É a décima fragrância da marca que avalio e, com base na cor do líquido e no storytelling, pensei que iria me encontrar com um gourmand “cheio de pegada”, mas fui surpreendido por um amadeirado-âmbar de voz baixa, bem asseado, elegante e cheio de boas intenções.

O resultado acaba sendo acolhedor e muito confortável, com uma dose de doçura aceitável e equilibrada, que pede por uma fungada no pescoço, aproxima quem a gente quer por perto e não tem cheiro artificial, o que reforça a qualidade das matérias-primas. Eu não indico para dias de calor, por razões de bom senso, mas tenho certeza de que, se um dia o clima esquentar do nada, a fragrância não vai desandar ou ficar extremamente enjoativa, pois as madeiras são bem densas na secagem.

Sabe quando a foto do aplicativo de encontro não tem nada a ver com a pessoa, mas a surpresa é boa? Pois é, Fava Selvagem é assim! 😉


The following two tabs change content below.
BORRIFANDO CONHECIMENTO HÁ ANOS. Crítico de fragrâncias, jurado de premiações nacionais nas categorias de perfumaria fina e cosméticos masculinos, além de consultor particular de estilo em fragrâncias e criador do Perfumart, maior blog especializado no assunto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *