Narciso Rodriguez lançou a sua primeira fragrância em 2003 e de lá pra cá cravou seu nome no mercado de fragrâncias de prestígio, segmento que representa bem o universo de seus perfumes, embora a grife pertença ao grupo dos Designers.
O perfume Narciso Eau de Parfum foi lançado em 2014 e abriu um novo pilar dentro da divisão de fragrâncias femininas. Na época, Narciso revelou que a intenção foi trazer para o mercado uma fragrância ainda mais sensual, dentro do seu portfólio, capaz de fazer qualquer homem virar a cabeça ao cruzar com uma mulher que estivesse vestindo-a. O rosto da campanha foi a modelo brasileira Raquel Zimmermann, que já esteve presente em inúmeras capas de revistas desejadas e em campanhas para grifes como Hermès, Valentino, Versace, etc.
Para criar uma fragrância que não fugisse do estilo da empresa, Aurélien Guichard foi o perfumista escolhido e o briefing criativo trazia uma regra específica: manter o almíscar no centro da composição, respeitando a tradição e a assinatura olfativa de Narciso Rodriguez. A composição traz gardênia e rosa da Bulgária, no topo, abrindo espaço para o almíscar – ingrediente-chave da marca –, que se funde ao âmbar, no centro. Na base, vetiver e extratos de cedro branco e preto (Thuja occidentalis e Thuja Nigra, respectivamente).
Na pele, Narciso Eau de Parfum se comporta como um floral branco de alma antiga, que foi totalmente repaginado e ganhou um toque de modernidade. É potente, cremoso e sensual, com um aspecto viciante e um perfeito equilíbrio entre opulência e suavidade. Para mim, é como uma loção hidratante de gardênias, com algumas nuances levemente atalcadas e um delicioso cheiro de almíscar e cedros. O âmbar deixou tudo mais sensual e a fragrância não evolui muito, embora existam relatos de mulheres que sentiram um cheiro muito artificial e adocicado e esse resultado não agradou.
Particularmente, não sinto muita presença da rosa ou do vetiver, mas adoro a faceta mais cremosa da gardênia (quem gosta de tuberosa irá curtir) e o sentimento peculiar que me faz querer usar esta fragrância em momentos que parecem um misto entre a provocação e o conforto. É estranho relatar isso, mas embora não seja o tipo de perfume que minha mãe costuma usar, ainda assim tem um cheiro que me faz lembrar dela por diversas vezes. Tem uma aura retrô, sem ser envelhecida.
Narciso Eau de Parfum não foi um lançamento de incrível inovação, mesmo em 2014. Mas consegue conversar com as demais fragrâncias femininas da marca, embora não fosse preciso, uma vez que deu início à uma nova linha que poderia ter seguido um caminho totalmente diferente. Em termos de projeção e fixação, não tenho do que reclamar. É uma daquelas fragrâncias que a gente sempre quer ter como referência quando se fala em Eau de Parfum.
E a identidade visual é um espetáculo à parte: o frasco manteve a pintura laqueada interna, com acabamento fosco, mas ganhou um desenho peculiar, representando um cubo de bordas translúcidas e peso indiscutível, com uma tampa de formato quadrado trazendo a marca em baixo relevo. Até então, esse padrão sempre foi sinônimo da linha Encre Noire (Lalique). As linhas retas sempre estiveram presentes em Narciso, mas este apelo mais masculino chamou a atenção das mulheres em meio aos demais lançamentos expostos nas principais vitrines do mercado.
Narciso Eau de Parfum deixou claro que, mais uma vez, a grife iria incomodar a concorrência com uma nova coleção de peso (piada intencional). E conseguiu.