O perfume Sidama foi lançado no dia 03 novembro de 2023. Ganhou esse nome em homenagem à Sidama, na Etiópia, local conhecido por muitos como o berço do café. O conceito criativo partiu de uma memória do próprio fundador da marca, ocorrida há mais de duas décadas, quando ele experimentou, pela primeira vez, um café etíope processado de forma natural.
Revelando um aroma ousado, rico e com nuances evidentes de mirtilo, esse experimento trouxe à tona a necessidade de recriar uma fragrância que fosse uma ode ao seu café favorito. Para tal, o perfumista Ugo Charron (Mane) ficou encarregado de dar vida ao projeto, que também faz parte da Coleção Origin.
A fragrância de Sidama é amadeirada-ambarada e possui notas de café, absoluto de rum, damasco e mix de frutas, no topo. O corpo traz notas de íris, chocolate amargo e a molécula Tropicalone™ que, ao contrário de outras lactonas similares, utilizadas para replicar o cheiro do pêssego, revela o aroma que sentimos no abacaxi, no maracujá e na pitaya, com efeito leitoso mais leve e maior teor tropical. Por fim, a base carrega notas da madeira do cafeeiro, vetiver, patchouli e uma outra molécula da Mane, chamada Orcanox™. Ela vem do esclareol e é rica em nuances ambaradas, amadeiradas, almiscaradas e um pouco atalcadas.
Contudo, Sidama não revela uma fragrância literal para quem espera sentir o aroma típico do café. Assim que borrifada sobre a pele, sinto como se alguém derrubasse sobre mim um copo de rum bastante adocicado. A saída é boozy, quente e assim permanece nos primeiros cinco minutos. Cheguei a pensar: “Será que alguém quer sair por aí cheirando a rum?”. Mas notei que o forte cheiro de rum começou a ceder espaço para uma bebida quente diferente, mais próxima do Café Caribenho (que leva uma dose de expresso, rum e baunilha).
A partir daí, Sidama se mostrou uma bebida perfeita para ser apreciada em tabacarias e cafés europeus, engarrafada com 27% de essência. E quanto mais eu aspiro o ar, mais facetas surgem. Agora, entre uma mordida na tartelete de damascos e alguns goles de café, sou impactado pelo forte aroma de chocolate amargo da sobremesa servida na mesa ao lado. Está calor no Brasil, mas eu posso jurar que a neve cai do outro lado das janelas!
A evolução é lenta e a fragrância exala sem piedade. Ao meu redor, o ambiente começa a se transformar em um chalé de madeiras escuras e revestidas por um brilhante verniz, que abrigam uma pequena lareira, da qual ouço o crepitar de madeiras e alguns ramos de folhas felpudas e perfumadas. A fumaça que sai pela chaminé não se dissipa por completo e fica fácil notar o cheiro do vetiver.
Então, o último gole na xícara me traz de volta para a realidade da minha rotina e me faz lembrar que as fragrâncias têm um poder peculiar de nos transportar para lugares que ninguém vê, mas podem sentir.
Sidama não se parece com nenhuma outra fragrância do meu acervo e carrega muito do DNA da marca, que reforça aspectos de beleza, asseio masculino e virilidade.
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