O perfume Impermanence faz parte da coleção inicial da fotógrafa e perfumista Christèle Jacquemin, que lançou três fragrâncias em 2019 e, de cara, foi nomeada para a premiação Art and Olfaction Awards 2020, na categoria artesanal. E é justamente esta fragrância que está concorrendo ao prêmio!
O termo Impermanence significa, em Língua Portuguesa, impermanência, ou seja, aquilo que não dura, que é instável, inconstante. Seria fácil pensar somente na fragrância e em sua constante evolução. Mas é difícil não pensar no contexto vivido durante este ano, que vem se mostrando mutante e que nos prova, todos os dias, o quanto é importante nos mantermos adaptados.
A inspiração para criar a fragrância nasceu através da coleção de fotografias que a artista fez em Jin Ze, um vilarejo nos subúrbios de Xangai, onde ficou morando por um mês. Impermanence possui notas de bergamota, gengibre azul e folhas de hinoki, na saída; Rosa, alecrim e palmarosa, no corpo; Vetiver e erva-mate, no fundo.
Assim que borrifada sobre a pele, a fragrância traz a faceta cítrica e luminosa da bergamota, aqui com aspecto extremamente natural. A sensação é quase orgânica, como espremer a fruta e sentir o aroma da casca e do sumo nas mãos. Ao mesmo tempo, a presença de nuances mais verdes e refrescantes aumenta, como se elas estivessem atrás das cortinas, prontas para entrar no palco. Palmas para o uso do hinoki, cipreste de origem japonesa, com olor limonesco e levemente amadeirado.
Até então, você nota a qualidade das matérias-primas, mas não se surpreende pela inovação e pensa: “é apenas mais uma fragrância verde e fresca com tons naturais vívidos”. Mas, como o próprio nome diz, tudo pode mudar em questão de minutos. E por mais que a evolução não ocorra de forma rápida, em um determinado momento (aproximadamente, após 30 minutos da aplicação) um buquê de rosas surge, repleto de nuances ardidas e selvagens. Isso porque a palmarosa é um tipo de gramínea da Índia (também chamada de gerânio indiano), cujo óleo essencial é mais floral que herbal, lembrando o perfume das rosas.
Impermanence continua fresco, mas não é mais o mesmo perfume cítrico de antes. Agora, se tornou um floral-aromático com características mais desafiadoras e, por isso, chamou a minha atenção. Para melhorar, conforme o tempo passa, o vetiver traz sua assinatura amadeirada – sem aquele aspecto terroso que assusta muita gente – e o mate confere um aspecto calmante de chá, aqui repleto de facetas herbais.
Para quem desconhece o universo criativo e autoral da perfumaria de nicho, mas gostaria de se aventurar e descobrir novas fragrâncias, eu diria que Impermanence é uma evolução daquilo que L’Eau D’Issey Pour Homme trouxe nos anos 90. Ouso dizer, inclusive, que tem tudo para ser um sucesso de vendas em locais de temperaturas quentes, como o Brasil.
Na minha pele, a fragrância se mostrou vibrante, com excelente projeção e ótima performance, embora seu caminho olfativo nos leve a crer que não irá durar muito tempo. Não senti relaxamento, mas uma sensação de tranquilidade e, sobretudo, otimismo. Com Impermanence, o invisível está em ação.
*imagem: reprodução / www.christelejacquemin.com
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