Depois de Toxic! Pink (lançado em dezembro de 2017), em março de 2018 a Natura lançou Rebel Glam a fim de dar continuidade às fragrâncias da linha Faces, que visam estreitar os laços com o público mais jovem. Pouco tempo depois, no início de maio, a empresa iniciou uma divulgação pesada junto aos jornalistas e influenciadores, ao lançar a sua primeira fragrância sem gênero: No Gender.
No Gender segue tendências mundiais que começaram a ser apontadas no final de 2015 e passaram a ser discutidas, com mais transparência, durante o ano de 2016, quando o gosto dos jovens começou a ser mapeado pelas casas de fragrâncias. Vários estudos foram feitos e os resultados começaram a aparecer mais recentemente (tempo hábil comum na indústria), mas esse assunto ainda deve continuar na pauta pelos próximos anos.
A Natura não é a primeira empresa nacional a acompanhar essa tendência conhecida como genderless (ou agender). Seu maior concorrente – O Boticário – também está investindo nesse conceito e, inclusive, decidiu remover a indicação de gêneros de fragrâncias já existentes da linha Egeo, mudando seus nomes.
Mas vale esclarecer um ponto básico e muito importante: a definição (ou não) de gêneros na perfumaria não tem qualquer ligação direta com a orientação sexual dos consumidores. Não é à toa que pesquisas já mostraram que milhares de mulheres heterossexuais preferem as fragrâncias feitas para os homens. Da mesma forma, homens homossexuais não tendem, necessariamente, ao uso de fragrâncias criadas para o público feminino, ao contrário do que muitos pensam. E esse é o cerne da questão: comprar e usar perfumes pelo prazer que a fragrância oferece, não pela indicação impressa na embalagem.
A questão de gênero existe há mais tempo do que podemos prever. Até poucas décadas atrás, mulheres eram proibidas de usar calças ou cabelo curto, pois isso fazia parte do universo masculino. Reforçar o que pertence ao homem e à mulher faz parte da nossa vida antes mesmo de nascermos. Prova disso está na obrigação que os pais têm em divulgar o sexo do bebê antes do nascimento, a fim de que providências sejam tomadas, tais como enxoval e presentes. Afinal de contas, se for homem, as cores predominantes serão o azul ou o verde; se for mulher, rosa ou lilás. E nos casos em que fica impossível descobrir o gênero durante os exames, opta-se pelo amarelo, uma cor unissex, neutra…SEM GÊNERO.
Isso está fortemente inserido no mercado comercial, desde roupas à brinquedos, desde itens tecnológicos à decoração de interiores residenciais e comerciais. E, obviamente, é um assunto explorado pela indústria de perfumes, embora a maioria dos perfumistas de renome internacional defenda que perfume não tem gênero, em sua plenitude.
É certo que algumas fragrâncias são claramente construídas para combinarem com um determinado público-alvo, mas não é disso que se trata o assunto, tampouco, irei dissertar sobre o mesmo nesta análise. A questão é que No Gender vem a ser a tal cor amarela, feita para transitar entre o masculino e o feminino. Será que funcionou?
Bem, a composição cita notas de laranja, noz-moscada, limão, pomelo, mandarina e bergamota, além de acorde verde, na saída. Em seguida, traz notas de gengibre, cardamomo, jasmim e lavanda, no corpo. Na base, notas de cedro, sândalo, fava tonka e patchouli. Na pele, No Gender chega cítrico e atraente. Mas, como num passe de mágica, perde o rumo e se mostra sintético e linear, ficando sem graça e enjoativo. Não consigo sequer identificar o que há na pirâmide olfativa. A impressão que tenho é que foi utilizada uma quantidade considerável de moléculas sintéticas, em uma fragrância feita às pressas para aproveitar uma janela comercial, por mais contraditório que possa parecer.
O lado positivo é que há sucesso na questão de trazer uma fragrância sem gênero e inofensiva, perfeita para jovens de 13 ou 14 anos, que querem usar um perfume descolado na escola ou no curso de línguas. É ideal para o(a) jovem que não tem vergonha de andar com pessoas de diferentes etnias, credos, orientação sexual, etc. Além disso, possui projeção eficaz durante as primeiras horas de aplicação.
O lado negativo é que não é uma fragrância boa para adultos, que ainda são os responsáveis pela renda familiar. Talvez, a campanha de No Gender deveria ter sido focada nas celebridades adolescentes, que possuem canais no Youtube, Instagram, etc. e influenciam milhões de jovens da mesma faixa etária.
O frasco é muito bonito e atual. Mas o preço jamais deveria ultrapassar o valor cobrado nas outras fragrâncias da linha Faces, ainda que estas tenham menor volume, pois o preço não vale o que o produto entrega.
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Será que essa fragrância corresponde ao antigo perfume exultante do anos 90